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    Henrique Meirelles

    Questão capital

    03/04/2016 02h00

    A forte queda dos investimentos no Brasil, provocada fundamentalmente pela queda da confiança dos investidores, é fator central da recessão.

    Esse deficit de confiança começou com o aumento da dívida pública (gerando dúvidas sobre sua sustentabilidade) e intervenções no sistema de preços e outros setores importantes. E foi reforçado pelas tentativas frustradas de correção de rota em 2015.

    Agora esse processo é exacerbado e consolidado pelas incertezas em relação à crise política, que mina o fator-chave do investimento -a previsibilidade.

    Esperamos todos que o país resolva seus impasses políticos e estabeleça linha macroeconômica capaz de resgatar a confiança. Com ela, retornarão os investimentos e o crédito, que impulsionarão a produção, o consumo e o emprego.

    Quando esse momento chegar, as empresas e o mercado de capitais do país estarão enfraquecidos pela crise longa e abrangente. Já o setor público não disporá de recursos para financiar investimentos devido a seus deficit elevados. Por isso, será fundamental reforçar o ambiente regulatório para atrair o investidor estrangeiro e o mercado de capitais internacional a fim de que ajudem a financiar a retomada econômica.

    Esse mercado andou retraído, com contração dos fluxos de recursos aos países emergentes e saída líquida de capital por sete meses até janeiro. Mas, em fevereiro, os investimentos retomaram o fôlego e, em março, atingiram o maior nível mensal em dois anos.

    Os investidores voltaram a se interessar pelos emergentes influenciados pela sinalização do BC dos EUA de que deve desacelerar a alta de juros, pela estabilização do preço das principais commodities e pela melhora nas expectativas sobre a China.

    Esses fatores elevam tanto a disposição de investir quanto o escrutínio dos mercados em relação a cada um desses países. Dada a dimensão do mercado de consumo no Brasil, os investimentos estrangeiros diretos são robustos, mas caíram 22% em 2015. O país, por razões óbvias, perdeu poder de atração.

    Mas, superada a crise política e definida uma política econômica eficaz -capaz de inverter a tendência de crescimento incontrolável da dívida pública, criar regras estáveis e atraentes ao investimento em infraestrutura e aprovar reformas para promover a produtividade e restabelecer a confiança-, teremos no mercado de capitais internacional e na disponibilidade de recursos do mundo fontes fundamentais de investimento no Brasil.

    Cabe a nós, portanto, solucionar os nossos problemas políticos e, a partir daí, montar nova plataforma de crescimento sustentado que traga segurança e previsibilidade aos investimentos. Não deverá faltar capital.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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