A retomada de uma enérgica diplomacia presidencial é uma das urgentes necessidades do país para revitalizar seu prestígio e influência no sistema internacional.
O embarque do presidente Michel Temer para a cúpula de líderes do G-20, na China, tem como pano de fundo importantes objetivos para inspirar confiança no país e suas instituições, consolidar a legitimidade do novo governo perante a comunidade internacional, impulsionar uma revigoração da política econômico-comercial e sair da diplomacia monolítica que caracterizou o período de interinidade com a temática "Mercosul-eixo bolivariano".
Greg Baker/AFP | ||
Presidente Michel Temer (esq.) posa ao lado dos líderes dos países do G-20, em cúpula na China |
A agenda presidencial em Xangai e Hangzhou talvez não resulte em dividendos imediatos ao Brasil. Mas a ida de Temer ao Oriente visa, principalmente, inaugurar um novo padrão de política externa.
Ainda que não se meça com precisão a contribuição do governo Temer aos eixos do G-20 (crescimento econômico inclusivo e implementação da Agenda de Desenvolvimento 2030), o Brasil precisa tracionar a narrativa de que segue ativo nos principais temas da agenda global.
Político perspicaz, Temer sabe que imagens e impressões importam. Por isso, a agenda elaborada pela Chancelaria brasileira com encontros com líderes mundiais é fundamental para alavancar as percepções pelas quais o Brasil quer ser visto em sua nova fase política.
Da mesma forma, é imperativo que o governo reorganize, após o retorno da Ásia, sua abordagem geopolítica ante os países da América do Sul. Uma diplomacia resolutiva além-mar e outra repleta de inflexões políticas na região podem contaminar a assertividade esperada da política externa deste governo.
Apesar de ser inaceitável a intromissão dos países vizinhos em assuntos brasileiros, a inédita decisão de Equador, Venezuela e Bolívia de congelarem, na prática, as relações com o Brasil, bem como a ruidosa manifestação do Uruguai sobre o impeachment, são graves, ainda mais se considerado que o Brasil é um grande financiador de obras públicas na maioria desses países.
Tradicionalmente, o Brasil buscou operar com dois condões no contexto sul-americano, ao não liderar pela coerção e ao evitar a formação de um bloco antibrasileiro na região. Até porque a legitimidade auferida ao governo brasileiro no exterior deveria, também, ser traduzida em resultado positivo na América do Sul.
Por isso, seria importante não tropeçar em pedras pequenas que possam minar essa doutrina regional.
Apesar de atritos visíveis, é fundamental na diplomacia a constituição de "back channels" (canais de bastidores) para dissipar rusgas, mitigar ilações indevidas e arrefecer a beligerância quanto à soberana decisão do Senado, demonstrando de forma inequívoca aos vizinhos que sua conduta diplomática é prejudicial e não lhes proporciona quaisquer ganhos, seja da perspectiva política ou econômica, desservindo às suas próprias sociedades.
A apresentação de uma política externa ornamentada por uma nova e assertiva moldura estratégica após a cúpula do G-20 não deveria se nortear por micro realinhamentos táticos, razão pela qual precisa ser integrada, coerente e efetiva nos concertos global e regional.
É cientista político, especialista em política internacional e Oriente Médio e pesquisador da Universidade Harvard. Foi consultor da ONU.