Todos os dias, o transporte escolar, depois de dar muitas voltas, me leva para casa com o meu irmão mais velho.
Chego em casa para almoçar e logo a minha mãe chega do consultório, o meu pai, do trabalho e a empregada, Maria José, que fala o tempo todo enquanto termina o almoço. Os cachorros não param de latir.
Meu irmão reclama das notas. A minha mãe, com um sorriso gentil, puxa a conversa de sempre: "Foi tudo bem na escola hoje?". Papai finge que presta atenção —sei pelo olhar dele, meio distante, que pensa em outra coisa . A Maria, que está no fogão, dá palpite em cada assunto que a gente fala.
Vira uma bagunça.
Ontem, voltei sozinho da escola. O meu irmão tinha recuperação, mamãe atrasou-se com o paciente, o chefe do pai marcou reunião, e a empregada me serviu o almoço e foi limpar o cocô dos cãezinhos.
Sozinho, cheguei à conclusão que adoro a confusão do almoço mesmo que todos os dias pareçam iguais.
Ilustração Pedro Coelho | ||
Tales Felizola, 11, é o colunista convidado deste mês
A cada mês, uma criança diferente escreve neste espaço sobre um tema a sua escolha.