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    Igor Gielow

    Salvem os fumantes

    03/12/2014 02h00

    BRASÍLIA - Em abril de 2009, escrevi neste espaço um lamento pela rigidez da lei antifumo imposta pelo governo paulista à época. Fui devidamente espinafrado como um dinossauro insensível e tachado de advogado das empresas de tabaco.

    Nesta quarta, poucos anos depois, restrições análogas valerão para todo o país, depois de serem adotadas em vários Estados. É inexorável.

    Como em 2009, sigo na crença de que é preciso acabar com o fumo passivo, que mata estimados 10% de todas as vítimas do cigarro.

    Acho que propagandas devem ser reguladas ou talvez até banidas, ainda que isso seja discutível. Pacotes de cigarro podem ter embalagens genéricas, como é tentado aqui e ali. Impostos altos são armas para bancar o ônus ao sistema de saúde e as campanhas educativas.

    Não acredito, contudo, que estigmatizar o fumante seja razoável. A proibição radical a fumódromos válida agora, algo que parece pouco racional, é apenas o primeiro passo.

    Como escrevi lá atrás, do jeito que vamos acabaremos numa música do Radiohead ("Mais saudável e mais produtivo/um porco/numa jaula/usando antibióticos").

    Vício sempre haverá. Fico feliz em não ter o cigarro entre os meus, mas prefiro um mundo no qual o Estado não tenha amplos poderes sobre como aplaco minha angústia ou tenho prazer, respeitados logicamente aí os limites do próximo.

    Meta do ativismo, o banimento total é inócuo e, como a Lei Seca americana ensinou, leva a banditismo quando vale para hábitos arraigados; não se advoga aqui, porém, a liberação de todas as drogas.

    Sempre que esse tipo de higiene social triunfa sob aplausos, lembro de um dos primeiros países a atacar frontalmente o tabagismo: a Alemanha de Hitler. Como dissecou bem Peter Cohen em "Arquitetura da Destruição", o melhor documentário já feito sobre o nazismo, eles só visavam "melhorar o mundo".

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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