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    Igor Gielow

    Réquiem

    06/03/2015 20h58

    BRASÍLIA - A lista com os políticos citados na Lava Jato, divulgada no momento em que estas linhas são escritas, insinua ainda mais turbulência para o governo com a confirmação da investigação aberta contra a cúpula do PMDB no Congresso e sobre vários políticos com trânsito nas esferas superiores da era PT, como Antonio Palocci Filho.

    Nada disso é boa notícia para o segundo governo Dilma, que chega neste sábado aos 65 dias com um peso de 65 anos nas costas. A tal era PT, iniciada com a ascensão de Lula ao poder em 2003, está enterrada.

    A narrativa é glauberiana. Lula assume em 2003, beija a cruz tucana do mercado, começa a surfar a longa onda de uma bonança externa nunca vista, investe em políticas de transferência de renda e sai recompensado, é quase destroçado pelo mensalão, se recupera, casa com o PMDB, "bomba" a Petrobras na fase pré-sal, fabrica um capitalismo à chinesa tropicalizado; por fim, faz "o diabo" para eleger Dilma. Uma apoteose bancada por irresponsabilidades políticas e econômicas, com danos irreparáveis à cultura política brasileira.

    A sucessora dispara uma política econômica anticíclica que vende o pleno emprego, a inflação volta, a aposta intervencionista é dobrada, as promessas eleitorais de 2014 voam alto, Dilma é reeleita com dificuldade já sob as sombras da Lava Jato.

    O discurso é jogado no lixo, Levy ressurge, as políticas sociais são reconsideradas, a nova classe C vê seu paraíso artificial ruir, o dólar vai a R$ 3, o desemprego espreita, a inflação namora os 9% ao ano, a implosão da Petrobras se consuma, o Congresso sai do controle, a Lava Jato amplia seu dreno e o PMDB pede o divórcio.

    Furtando uma metáfora americana, o governo Dilma pode até sobreviver como pato manco nos anos que lhe restam. Ou, mais improvável, achar uma saída miraculosa e se reerguer. Sobre a era PT, falta à cacofonia uma melodia ou regentes viáveis para o réquiem.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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