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    Igor Gielow

    Fala, doutora!

    01/08/2015 02h00

    BRASÍLIA - A criminalista Beatriz Catta Preta, estrela na apuração do petrolão, armou uma grande confusão com sua entrevista ao "Jornal Nacional" de quinta-feira (30).

    Após conduzir uma leva de malfeitores confessos a abrir o bico para evitar o destino de Marcos Valério e abrandar suas penas, Catta Preta saiu intempestivamente de cena.

    Se disse perseguida pela CPI da Petrobras. De fato, convocar advogado para saber o quanto ganha não é nada menos do que constrangimento ilegal. Mas ela foi além, alegando perigo de vida para si e sua família.

    De forma calculada para fugir de processos (é uma advogada, afinal), apontou o dedo para Eduardo Cunha, o acuado presidente da Câmara, virtual denunciado na Lava Jato e mentor intelectual da CPI.

    Além disso, apresentou uma versão esquisita sobre a inclusão do nome de Cunha no rol de acusados por um de seus clientes, Julio Camargo.

    Durante meses, ele negou que o deputado tivesse sido favorecido pelo petrolão; de repente, incluiu um "pixuleco" de US$ 5 milhões na conta do peemedebista. Segundo ela, Camargo temia Cunha. Depois, à sombra da PGR (Procuradoria-Geral da República), tomou coragem.

    Ambas as histórias encerram dúvidas. Ou a advogada diz quem a ameaçou, e como, ou terá sido apenas leviana contra um Poder da República.

    No caso de Camargo, é pior. Ao relatar a mudança da narrativa, Catta Preta coloca outras delações sob sua batuta na Lava Jato sob a mesma suspeição. Isso é péssimo para uma operação que até aqui trouxe mais ganhos do que perdas institucionais.

    De quebra, ela dá gás à teoria alimentada por Cunha de que a PGR o persegue de forma seletiva. Não é assim, até porque ele já estava bem enrolado devido à apuração de requerimentos sobre empresas, mas que o relato sobre a delação de Camargo soa pouco crível, isso é incontestável.

    Catta Preta serviria ao país se elucidasse esses pontos. Fala, doutora!

    igor.gielow@grupofolha.com.br

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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