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    Igor Gielow

    Piadas de salão

    31/10/2015 02h00

    BRASÍLIA - À usual retórica da "perseguição das elites e da mídia", Lula adicionou troça para comentar o fato de que a PF cumpriu o que a lei lhe ordenou e bateu nas portas de sua família numa investigação.
    No tom chão de fábrica que o tornou o melhor orador popular do país, ironizou aos seus no encontro do PT de quinta (29) que suas noras iriam acabar brigando pelas propinas que são atribuídas à sua família.

    Lembrou um antigo companheiro seu, Delúbio Soares, dizendo que o mensalão viraria "piada de salão". Bom, o ex-tesoureiro petista acabou encarcerado no julgamento do caso.

    A bazófia revela o nível de nossa política, numa semana em que o Diabo se divertiu no cerrado: teve líder do PT incitando violência, senador do DEM trocando impropérios com ministro, deputados irrelevantes fora da rede social ganhando... rede social. Enquanto isso, o país manquitola para 2016 com o impeachment no ar e a economia bichada, e só agendas regressivas avançam na Câmara.

    Falta exemplo. Num lugar sério, filho de presidente é tão escrutinado quanto o pai, e a máxima da mulher de César vale especialmente para a "primeira-família". Aqui, não pode.

    A despeito do desfecho das investigações, o caso em questão na mira da Operação Zelotes permitiria em outro país levantar a bandeira de uma necessidade civilizatória: a legalização e normatização do lobby.

    Enquanto lobista não andar com crachá, ele merecerá relatórios policiais adjetivados e reportagens flertando com o udenismo. Claro, a inércia deixa todo mundo feliz: o empresário atendido, o lobista comissionado e a autoridade "presenteada".

    Vivemos numa antessala do capitalismo. Demagogias populistas, a maioria, mas não só, à esquerda, são triviais da academia às cortes superiores, contaminando o debate, como prova o caso do financiamento privado de campanhas.

    A esperança poderia estar na política, mas aí você olha e vê o vazio.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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