BRASÍLIA - O clima inclemente de Brasília ganha, com as chuvas ainda bem mais ocasionais do que deveriam ser e altas temperaturas desta época, o bônus da proliferação de insetos. Abunda uma bicharada, das já minguantes cigarras a crescentes hordas de pernilongos sedentos, e muitas moscas.
Na reconfiguração política visando 2016, brilham as últimas. Matéria em decomposição não falta.
Cargos vão sendo rifados para manter o que sobrou do governo, já que o impedimento de Dilma é visto como vencido por agora –tanto que a oposição deixou de circundar a lâmpada do impeachment que Eduardo Cunha ameaça acender.
O PMDB fará de seu encontro na terça mais uma etapa do desembarque do governo, curioso caso em que um mosquito anuncia a todos que está de saída enquanto mantém sua tromba presa aos vasos sanguíneos remanescentes do moribundo.
Para coroar a temporada entomológica, adentra o palco a mosca azul, aquela de "asas de ouro e granada" do poema de Machado de Assis. A vítima da vez é Henrique Meirelles, convencido por Lula de que será para Dilma o que FHC foi para Itamar Franco se tomar o lugar de Joaquim Levy na Fazenda.
E como se operará tal milagre, caso derrube Levy, a transformá-lo num "rei de Caxemira" com "imenso colar de opala" e "cem mulheres em flor" aos pés, abanado por "grandes leques de avestruz", coberto de glórias sobre "quatorze reis vencidos"?
Até aqui, Meirelles já se disse disposto a eliminar a concorrência no Planejamento e no BC, e defendeu cortes em vez de impostos. Terá a força que faltou a Levy? Principal: vai aderir ao populismo lulista e injetar crédito na economia? Se sim, como? Ampliando a dívida bruta por meio de capitalizações de bancos federais? Apelando ao Tesouro? Se contradizendo sobre o gasto público?
Não custa lembrar: o protagonista se dá mal no fim do poema.
É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.