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    Igor Gielow

    Tudo ou nada

    19/12/2015 02h00

    BRASÍLIA - Em luta para manter-se o cargo, Dilma Rousseff encarnou Erich Ludendorff, o famoso comandante militar da Alemanha imperial na etapa final da Primeira Guerra Mundial. Foi para o tudo ou nada.

    A petista radicalizou com as apostas na implosão do PMDB e na indicação de Nelson Barbosa para a Fazenda. As perspectivas são sombrias.

    Esqueçam vitórias ou derrotas sobre ritos do impeachment no Supremo: para ambos os lados, elas sugerem incorretamente veredictos.

    Na política, ao investir no fratricídio entre Michel Temer e Renan Calheiros, a presidente queima talvez o último cartucho. Não sendo demissível, restou combater o vice, alternativa de poder, no seu partido.

    Na economia, a saída de Joaquim Levy só confirma a sensação de que o ocaso dos quase 13 anos de PT no poder se desenrola com niilismo.

    Seu antecessor, Guido Mantega, passou meses como ex-ministro em atividade. O mesmo ocorreu com o tecnocrata cuja soberba foi inversamente proporcional à eficácia. Provam que a cadeira da Fazenda sob Dilma tem a propriedade de liquefazer a espinha dorsal do ocupante.

    Já Barbosa vem pronto para a tarefa, até pela identificação com o receituário populista que levou o país à situação falimentar. Se quiser provar o contrário, terá de suar a camisa; se não, confirmará um aceno ao PT lulista e também a Renan.

    Tudo somado, o que restará a Dilma se sobreviver ao impeachment? Assentar sua igreja sobre a rocha porosa de Renan enquanto o mercado regurgita Barbosa? Atiçar a crise no PMDB serve para marcar Temer como inconfiável, assim como abrir um cofre vazio pode criar ilusões, mas sugere um custo de Pirro ao Planalto.

    Em 1918, Ludendorff arquitetou a "vitória final" ao atacar a frente ocidental que começava a ter reforço americano, após a rendição russa aos alemães lhe dar mais oxigênio. Exauriu-se, e a Alemanha caiu. Sem opção, Dilma arrisca a mesma trilha.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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