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    Igor Gielow

    Cone sul

    23/01/2016 02h00

    BRASÍLIA - É prematuro ver no sorridente e mercurial novo presidente argentino, Mauricio Macri, a encarnação da salvação dos males da América Latina ou uma reedição do canastrão Carlos Menem.

    Naturalmente, ele toca música para o mercado que o recebeu de braços abertos em Davos, o encontro dos poderosos que interessam. Lula, a "alma viva mais honesta" e que nada sabe nem sobre seu filho, aprendeu rapidamente sobre o poder dos holofotes congelados locais.

    Perto do casal Kirchner, estrela de bolero do populismo à esquerda que encontra seu ocaso no continente, Macri é um avanço visível, mas algumas de suas medidas autoritárias de saída e reações intempestivas o colocam imediatamente sob suspeição.

    Além disso, falamos de uma ruína institucional chamada Argentina, que assim é há décadas. O Brasil, desgovernado há anos e sob o escrutínio da Lava Jato, ainda mantém um arcabouço com certa estabilidade.

    Que resiste a despeito do PT, e não por causa dele, como Dilma e Lula gostariam que você acreditasse. O partido levou ao paroxismo práticas de corrupção e criou outras. E retrocedeu o país a indicadores econômicos da década de 1990 e quebrou tecnicamente sua maior empresa.

    A crise bateu de vez no emprego, bastião de boas notícias no primeiro mandato de Dilma. Não há meias palavras sobre a gravidade da situação; para uma supersticiosa assumida, foi estranho ver a presidente se comparar a um antecessor que deu um tiro no peito quando a coisa apertou.

    No mínimo, porque simbolismo é algo importante na política. Macri já percebeu isso, mas vai precisar fazer mais do que postar fotos de bilhetes de voo comercial para poder viver o felizardo a dizer "Eu sou você amanhã" da velha propaganda de vodca.

    Dando certo ou se provando um embuste, ele hoje oferece algo que não há na nossa versão tropical do ouroboros, a cobra que come o próprio rabo: mudança de rumo.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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