BRASÍLIA - Coube a Henrique Meirelles, czar da área econômica do governo de Michel Temer, dar o tom em sua entrevista de reestreia no poder: para dar certo, a nova administração só deve anunciar o que for exequível, ou seja, o que deve ser aprovado pelo Congresso.
Se a sobriedade soa bem, será curioso ver como ela pode ser incutida numa equipe recheada de parlamentares de segunda, que não se seguram na frente de um microfone.
Mas a ideia explica o arcabouço armado por Temer, visando azeitar a dinâmica Planalto-Parlamento. Moderninhos fazem mimimis ululantes pela carranca de Esplanada apresentada. Sem discordar da evidente falta de diversidade desejável, é de se perguntar em que planeta eles moravam para ver nos 13 anos passados só um oásis de reformas e progressismo. O ímpeto de reescrita da história é irrefreável nesse pessoal.
Acolhendo o que é óbvio em termos de avanços na era PT, não custa lembrar que o partido deixou uma terra arrasada na economia, na ética e na política. Aos velhos e aos velhacos, sobraram as batatas.
Os petistas em retirada agora se comportam como os templários expelidos da França numa outra sexta 13, em outubro de 1307 —uma das origens da lenda do mau agouro da data. Procuram refúgio, como a bela Tomar na qual os cavaleiros em fuga foram assentados, talvez na forma de uma "frente de esquerda".
(Para ficar em dias fatídicos, um parêntese cabalista: foi numa sexta 13 que há 12 anos explodiu o caso Waldomiro Diniz, primeira grande fissura no casco ético do PT, caminho sem volta que chegou ao fim agora).
A sexta ainda registrou, no campo de Temer, a promessa de manutenção da chefia da PF que tocou a Lava Jato. Não é pouco, se for para valer e após um ministro da Justiça que prometia enquadramentos.
O realismo marca o início da gestão Temer, faltando saber se não descambará para mera prática pedestre.
É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.