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    Igor Gielow

    Futurologia à parte, conservadores têm grandes chances em 2018

    08/02/2017 02h00

    Jales Valquer/Fotoarena/Folhapress
    O governador de São Paulo Geraldo Alckmin se reuniu na manhã desta segunda-feira (09) com o prefeito João Doria para debaterem ações prioritárias e parcerias entre o Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo. O encontro aconteceu no Palácio dos Bandeirantes localizado na Avenida Morumbi, 4.500, Morumbi, São Paulo (SP).
    Reunião entre o governador Alckmin e o prefeito Doria para discutir parcerias, ocorrida no começo do ano

    É um exercício infeliz, o da futurologia. Necromantes gregos e romanos sujavam a mão com imundícies cadavéricas atrás de augúrios para seus senhores, chineses da dinastia Shang faziam o mesmo tostando cascos de tartarugas.

    Não se espera tanto da ciência política de hoje, mas pululam no mercado especulações sobre a eleição presidencial do ano que vem à medida em que 2017 avança e o "establishment" busca se manter em pé de crise em crise.

    O óbvio "hedge" que a Operação Lava Jato obriga já entra no cálculo. É com base na pergunta "quem vai sobreviver" a este ano que se estabelecem os cenários possíveis.

    Isso dito, qual o perfil provável da próxima pessoa a ocupar o Planalto?

    A lógica decorrente da implosão do PT e de seu esquema de poder diz que o brasileiro elegerá um conservador ou conservadora, com todos os poréns que a definição exige no Brasil. Não há aqui um político mais à direita que se orgulhe disso e não seja caricatural ao mesmo tempo.

    O resultado do pleito municipal pós-impeachment de Dilma Rousseff demonstrou a exaustão atual do discurso à esquerda, contudo.

    O próprio perfil dos cidadãos, que vem sendo aferido por institutos como o Datafolha ao longo dos anos, reforça essa impressão. Em termos de valores, o Brasil é um país da chamada direita, ainda que economicamente adore um Estado paternalista ao gosto esquerdista.

    Pode haver uma inflexão em curso, se São Paulo liderar alguma tendência urbana, com a ascensão de João Doria, o acelerado prefeito tucano paulistano que virou a melhor carta na manga de Geraldo Alckmin (PSDB) em sua busca para trocar o Palácio dos Bandeirantes pelo do Planalto.

    Ao menos no que os parcos dias de sua gestão permitem dizer, no vocabulário de Doria privatização não é palavrão, para ficar num exemplo comezinho que custou a Alckmin muito na derrota para Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.

    Pesquisas qualitativas na praça demonstram que, por ora, a grita contra mudanças de paradigmas e marquetagens do prefeito está restrita ao mesmo nicho que deu míseros 16% ao ídolo dos progressistas paulistanos, Fernando Haddad (PT).

    A retórica da antipolítica, por vazia que seja já que não há Doria sem as engrenagens poderosas que o sustentam, parece estar dando certo até aqui. É tolice enxergar nele um Donald Trump.

    O prefeito já é um ator nacional, sendo obrigado a negar que vá ser candidato a governador ou até a presidente. Caberá a Alckmin capitalizar ou lamentar o desempenho de seu pupilo.

    A situação do governador é curiosa. Em tese, ele tem o figurino perfeito do tal conservador à espera de uma urna. Mas ele não tem seu partido, o PSDB, na mão. Essa atribuição é de Aécio Neves, senador mineiro que preside a sigla. Aécio quase ganhou de Dilma em 2014 e busca viabilizar uma nova candidatura.

    Outro figurão, o chanceler José Serra (SP), ajudou a colocar o PSDB em peso no governo Temer, e está aliado do antigo desafeto Aécio visando barrar os movimentos de Alckmin, de olho em alguma postulação em 2018.

    Obviamente, Serra gostaria de disputar pela terceira vez a Presidência. Mas precisaria ter um hoje improvável apoio no PSDB. Se Doria ficar na prefeitura e sem o indicado ao Supremo Alexandre de Moraes no páreo, contudo, São Paulo passa a ser uma alternativa natural.

    Neste momento, há um avenida bloqueada para Alckmin. Pegar o atalho via o aliado PSB é um plano B frágil, dada a capilaridade reduzida da legenda. Mas aqui o fator Lava Jato pode fazer a diferença.

    Dos caciques tucanos, Aécio é o que mais enfrenta acusações e insinuações variadas no escopo da operação. Serra e Alckmin são citados, mas por enquanto estão em situação mais confortável do que a do mineiro, algo que mesmo os aliados do senador reconhecem. Todos os três negam quaisquer irregularidades.

    A depender do estado desses personagens ao longo deste ano, a opção pela união por trás de alguém com o perfil de Doria poderá também ser colocada.

    Além disso, a aproximação orgânica do conglomerado Aécio/Serra do governo Temer é uma via de mão dupla. Uma recuperação da economia que seja sensível à população seria um ativo valioso, mas a eventual derrocada no campo jurídico-ético está sempre à espreita.

    Sempre há o fetiche da terceira via, papel que já coube no passado a Ciro Gomes (PDT) e a Marina Silva (Rede), ambos nomes que devem estar no páreo em 2018 -os bons índices da ex-senadora não devem ser levados por seu valor de face, por representarem mais um "recall" dos pleitos de 2010 e 2014.

    Ciro, por sua vez, torce para que Lula não seja candidato para tentar unificar os escombros da esquerda. Soa quixotesco. Por fim, sempre haverá uns 5% a 10% dispostos a votar numa figura como a do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o que diz algo sobre a miséria do nosso tempo, mas não mais do que isso.

    Voltando a Lula, sua candidatura é a grande questão. Se ela não for inviabilizada juridicamente, como é possível em uma eventual condenação em duas instâncias na Lava Jato, Lula poderá levar o que sobrou de seu exército a uma última batalha.

    Se terá espírito para isso, e o impacto da morte da mulher é insondável como previsão, é outro ponto. O grau de fragmentação do campo conservador parece ser a régua a definir um embate. É tarefa mais simples checar sinais na borra do café.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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