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    Igor Gielow

    Protestos contra reformas testam resistência e futuro da gestão Temer

    26/04/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 18-04-2017, 16h00: Policiais Civis de vários estados queimam caixões em frente ao congresso nacional em protesto contra a Reforma da Previdência. Um grupo chegou a tentar invadir o congresso e quebraram vidros da Chapelaria. A polícia legislativa respondeu com bombas de gás lacrimogêneo. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Entidades de policiais civis fazem ato contra reforma da Previdência em frente ao Congresso, em 18/4

    Depois de duas tentativas frustradas, uma à direita e outra à esquerda, as ruas tentarão voltar ao protagonismo no enredo entrópico vivido pelo Brasil desde o interminável junho de 2013.

    O resultado pode ser fatal para as pretensões do presidente Michel Temer (PMDB), abrindo caminho para sua "sarneyzação" final até a campanha do ano que vem, ou demonstrar que há margem para mais avanços do governo nas reformas previdenciária e trabalhista.

    Em 15 de março, atos contra as reformas não foram exatamente um fracasso, mas nem tampouco lograram levar a população comum às ruas. Potencial para isso havia: sob um misto de campanha terrorista da oposição e má comunicação governista, ficou fácil rotular as mudanças como "ataques a direitos". Aliados menores de Temer, como PSB e PPS, já olham para fora do barco.

    Não que não haja pontos a serem discutidos na proposta previdenciária, por exemplo, como cada anúncio de recuo do governo nessas semanas provou. Ou que haja crescente precificação de que a reforma possa acabar numa meia-sola. Enquanto imola suas vítimas no altar das obsolescências da CLT e do mito da Previdência sem rombo, a esquerda ganhou um bom discurso contra o governo. Ainda assim, falhou em ampliar o público pagante, digamos, de seu espetáculo.

    Poucos dias depois, em 26 de março, foi a vez do espectro à direita fracassar com um protesto sem foco definido. Defensores da Lava Jato e malucos da intervenção militar batiam cabeças entre vazios da avenida Paulista. A perda de musculatura organizacional coincidiu, em São Paulo, com a crise entre o antes onipresente Movimento Brasil Livre e a gestão João Doria (PSDB) sobre o que se ensina em escolas municipais, dando um vislumbre sobre embates para 2018.

    Houve ainda um protesto-repique em 31 de março e vidraças quebradas no Congresso na semana passada. O segundo evento, por envolver entidades de policiais, chamou a atenção, mas ambos foram laterais.

    As ruas voltaram ao seu estágio pré-2013. Nada parecido com o ímpeto do impeachment de Dilma Rousseff ou os eventos de junho daquele ano. Um ministro avalia que "o monstro se recolheu, mas não se sabe quando pode acordar de novo, ou por que o faria", e não está errado.

    Nova chance será dada ao pessoal de vermelho nesta sexta (28), quando as paralisações se anunciam potencialmente grandes. Terão ressonância no cidadão comum? Ouvi pais reclamando de que seus filhos em caras escolas particulares ficarão sem aula por caprichos corporativistas. Pode ser ou não verdade, em especial se você é um professor e crê que é importante ter regras próprias para se aposentar, mas o que interessa é a impressão.

    Ela deve ser reforçada, no registro classe média, se houver caos logístico em grandes cidades, algo facilmente alcançável quando categorias organizadas como metroviários e motoristas de ônibus prometem parar na véspera de um feriado prolongado.

    Essa é uma janela de oportunidade para Temer: se os atos degenerarem em meros engarrafamentos. Enquanto isso, a reforma trabalhista avança ao plenário nesta quarta (26) e a da Previdência vai no compasso mais medroso dos parlamentares. Com um olho na debacle de sua classe, cortesia da Lava Jato, eles observam se o "monstro" se mexe ou se continuará como um fetiche entorpecido.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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