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    Igor Gielow

    Ausência de alternativas visíveis é a novidade sombria da crise de 2017

    31/05/2017 02h00

    Leonardo Benassatto/FramePhoto/Folhapress
    O presidente Michel Temer (PMDB) participa do Fórum Brasil de Investimentos 2017, no hotel Grand Hyatt em São Paulo, nesta terça-feira (30).
    O presidente Michel Temer (PMDB) participa de evento em São Paulo

    O aspecto mais angustiante da crise entrópica do governo Michel Temer não é só seu prolongamento, já apontado aqui pela musculatura ainda relevante do Planalto, mas o fato de que ela carrega uma novidade fundamental em relação a outras experimentadas no passado.

    Trata-se da ausência de alternativas. Sem juízo algum de mérito sobre o que veio depois, todas as crises institucionais sérias do país na história republicana mais ou menos recente traziam alguém, ou algum grupo, na fila. Fossem os tucanos pós-Collor ou o condomínio que assumiu após a queda do PT, para ficar em exemplos próximos, sempre havia alguma alternativa à mão.

    Agora, para espanto de qualquer observador externo, não existem opções claras para o caso de derretimento final de Temer. Se parece altamente improvável que ele dure até 2018, essa ausência pode configurar a arte trevosa a operar o milagre de manter o peemedebista no cargo.

    Esse vácuo tem a ver com o desmonte geracional provocado pela Operação Lava Jato, algo inédito para nosso padrão insolvente de ética pública. Há outros fatores, como a máxima de Ulysses Guimarães segundo a qual a próxima legislatura sempre será pior do que atual, por pior que esta seja.

    E a percepção, quando são perfilados os nomes de destaque das duas Casas do Parlamento, é de que chegamos no fundo no poço: ou falamos de enrolados com a Justiça, ou de medíocres ineptos, ou das duas coisas juntas. Há exceções, claro, mas são gotas em oceanos.

    Essa é uma consideração dentro do marco constitucional, de eleições indiretas caso Temer caia, cassado pelo TSE ou abatido por eventuais novas revelações na investigação contra si na Lava Jato. A opção pelas diretas, bonita filosoficamente, é impraticável hoje.

    Mesmo nelas, as diretas, a ideia de que são rejeitadas só porque Lula ganharia facilmente constitui cegueira, dada sua rejeição e a quantidade de passivos jurídicos que carrega. O maior perigo aparente é o do surgimento de alguma opção populista, no campo conservador ou mesmo à esquerda, com soluções fáceis. É isso que a ideia de rasgar o "livrinho" e mudar as regras tem de mais nefasto.

    Um importante ator da crise dizia, na noite de terça (30), que a disposição de Temer de enfrentar a Lava Jato com a indicação de Torquato Jardim para o Ministério da Justiça poderá apenas acelerar todo o processo em curso. O clima em Brasília era de acirramento hora a hora.

    Esse político lamentava que, hoje, nenhuma das soluções no mercado emerge como consensual. É disso que se trata a entropia, o conjunto de forças destruidoras num sistema de troca de energia que inexoravelmente marcha para a devastação completa.

    *

    Se não inventou a roda da corrupção, o PT deu ao engenho sofisticação e ousadia inauditas em seus anos no poder. É simplesmente de cair o queixo a admissão casual de Guido Mantega que, comandante da economia do país por longos oito anos, ele ocultava patrimônio no exterior e sonegava imposto.

    Na nossa escala deturpada de valores, fica parecendo multa de trânsito. Não é, nem deveria ser, mesmo quando comparado à tragédia legada por Mantega e os seus nos anos finais de sua gestão.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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