• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 20:27:15 -03
    Igor Gielow

    Com ou sem Temer, crise iniciada em 2013 se aproxima de um novo clímax

    07/06/2017 07h02

    Reprodução/Video/TSE
    O relator, ministro Herman Benjamin
    O relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, ministro Herman Benjamin, no julgamento

    Independentemente do resultado do julgamento do TSE, que começou nesta terça (6) com a expectativa de uma absolvição do presidente Michel Temer, ou eventual pedido de vistas, o tempo que resta até a eleição de 2018 poderá encerrar o ciclo de turbulência iniciado com a explosão das ruas de junho de 2013.

    Se o fará com um suspiro ou um estouro, veremos. Isso se não registrar apenas mais uma sístole do processo, um clímax intermediário antes do prosseguimento da história. Enfim, no caso de queda de Temer, seguida pelo caminho constitucional da eleição indireta (diretas determinadas pelo TSE parecem uma impossibilidade; PEC é inviável), dificilmente haverá algo diferente do que uma continuidade com outro nome na cabeça.

    Hoje esse nome não existe, dada a tensão entre a turba congressual louca para instalar uma oclocracia e os desejos dos mandarins da alta política —quase todos feridos, uns de morte, pela Lava Jato.

    Se Temer permanecer, terá operado um milagre cuja duração parece condicionada à divulgação de um áudio ou de alguma inconfidência em delação. É precário. Mas o efeito geral, já precificado no mercado, é de que o "governo reformista" terá de se contentar com um agenda mais modesta, condicionada ao temor de parlamentares que buscam a reeleição de associar-se a quaisquer "maldades" (aspas compulsórias).

    Com isso, vai ganhando corpo a ideia de que, parafraseando a premiê Theresa May, "já basta". A classe média esmagada pela crise quer respirar um pouco da melhoria econômica, sem reformas o curral do PT nos sindicatos tenderá a sossegar, os donos do dinheiro querem previsibilidade mínima até o fim da pinguela temerista (com ou sem o próprio presidente).

    Há contudo um elemento mais volátil, representado pelo embate entre o complexo judicial-policial e o mundo político que permeia desde 2014, com a irrupção da Lava Jato, todo o debate público brasileiro. Os políticos no Legislativo e no Executivo querem o fim da pressão diuturna da operação, e o roteiro para isso está no forno, esperando datas auspiciosas para disfarçar seu ímpeto —como o fim do mandato de Rodrigo Janot na PGR, no longínquo setembro. Problema maior é o que vem depois: a elaboração da "separação do joio e do trigo", que buscará evitar a criminalização de quem cometeu caixa dois.

    Nesta hora saberemos se está exaurido de vez o pulso do monstro que acordou em 2013. Entre políticos, corre o medo de que cutucar o bicho com essa vara irá acordá-lo. Para muitos, é pagar para ver, ainda que eles estejam pensando muitas vezes só em pleitos futuros: o carimbo da Lava Jato é indelével no médio prazo para pretensões eleitorais. Outros temem a perda de controle da situação, com um presidente fraco sob pressão para renunciar, antecipando de vez a sucessão de 2018 em condições de montanha-russa.

    Ninguém, e não se engane com o discurso diretas já do PT, quer isso. Pode acontecer? O Brasil está pronto para virar a Argentina de 2001? Ou haverá uma concertação, imoral em essência mas talvez incontornável, e o país manquitola até a eleição de 2018, tentando manter o nariz econômico acima da linha d´água?

    Seja o que for, não será bonito.

    *

    Fernando Haddad não se emenda. Em longo artigo na revista "Piauí", devidamente incensado como o manifesto do nosso "Macron-in-waiting" pelo pessoal do subdistrito Pinheiros/Vila Madalena no Facebook, o ex-prefeito paulistano comete uma obra-prima da soberba e da autoindulgência política.

    Apesar de anotações corretas, ainda que um tanto óbvias, sobre a crise que abate o Brasil desde 2013, Haddad se desmancha em mimimi sobre as agruras de ser o "novo homem" iluminado pelas luzes uspianas em meio às bestas-feras a que ele concedeu a graça de seus favores como alcaide. Culpar o mundo por seu fracasso, previsível. Mas estocar o cadáver político de Dilma, só para desviar a faca de Lula? É comovente sua coragem.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024