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    Igor Gielow

    Depois do 'Twin Peaks' do TSE, política vê o faroeste Janot x Temer

    14/06/2017 07h02

    Suzanne Tenner/Showtime/AP
    This image released by Showtime shows Kyle MacLachlan from the revival of "Twin Peaks." The series debuts Sunday at 9 p.m. EDT. (Suzanne Tenner/Showtime via AP) ORG XMIT: NYET147Restrição:AP PROVIDES ACCESS TO THIS THIRD PARTY PHOTO SOLELY TO ILLUSTRATE NEWS REPORTING OR COMMENTARY ON FACTS DEPICTED IN IMAGE; MUST BE USED WITHIN 14 DAYS FROM TRANSMISSION; NO ARCHIVING; NO LICENSING; MANDATORY CREDIT
    O agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) no Quarto Vermelho da série "Twin Peaks", versão 2017

    O Brasil vive, e já são uns bons quatro anos agora, uma variante de temporada da genial série americana "Twin Peaks", ressuscitada pelo diretor David Lynch um quarto de século depois de entrar no imaginário psicodélico de uma geração de telespectadores.

    O mais recente episódio se passou no Quarto Vermelho, digo, no plenário do TSE que de forma assombrosa se parece com o cenário extradimensional no qual parte do enredo de "Twin Peaks" evolui.

    Assim como no Quarto Vermelho, o tribunal parecia fora da realidade: provas não eram provas, a própria ação parecia mais uma anomalia, dada a impropriedade de estar sendo julgada séculos depois do que seria adequado mesmo para o padrão jabuticaba da Justiça Eleitoral daqui. Isso dito, as sombras rubras daquele cômodo por muito irão assombrar a vida pública brasileira.

    Agora migramos para um novo episódio movido a forças entrópicas intermináveis. A tendência, contudo, é rumar a um roteiro mais dualista, típico de faroestes mesmo. Sem entrar na armadilha de nomear mocinhos e bandidos, estará colocada mais uma vez a lógica do duelo. Se já houve Lula x Sergio Moro, agora teremos Rodrigo Janot x Michel Temer.

    Mais apropriado seria chamar a peleja no nosso OK Corral da política de Janot x Todos -com prazo presumido para acabar, o setembro no qual expira o mandato do procurador-geral da República. Até aqui, Temer opera o milagre político de sobreviver devido ao vácuo de alternativas viáveis que se apresentou na esteira da explosão da bomba da JBS em seu colo. É pouco, mas deu certo até aqui. Agora, na investida que Janot prepara contra si, o peemedebista terá a companhia esperada de boa parte do Congresso.

    É nisso que se fia o presidente. Se teria quase naturalmente o terço mais um voto necessários do plenário para barrar a denúncia que virá da PGR, Temer pode contar com algo maior: o espírito de corpo. Na lógica parlamentar, se o titular do Planalto pode ir para o banco dos réus, imagine o que virá em seguida.

    O raciocínio embute um risco, claro. Supondo que a perícia policial sobre o famoso áudio da JBS com Temer complique a vida do presidente e a denúncia da PGR for substancial, há a possibilidade de que deputados fiquem ressabiados para salvar a pele do peemedebista -relativizando o termo, já que a aceitação da denúncia traria um conflito moral enorme para o Planalto, mas não significa culpa penal de forma alguma.

    Para tanto, seria preciso descobrir se os eflúvios do episódio do TSE atingiriam a realidade dura do embate —que tem uma série de delatores potenciais como coadjuvantes importantes. A qualidade do explosivo a ser utilizado contra Temer será fundamental para a pretensão de Janot, mas há a possibilidade de que a percepção de pizzaria generalizada deixada pelo julgamento da chapa na opinião pública molde a reação ao fim. Se será pela abulia ou pela ebulição, as ruas dirão.

    Infelizmente, nos faltam David Lynch ou um grande do bangue-bangue, como John Ford, para dar algum charme a tudo isso.

    *

    O poder simbólico das imagens é especialmente notável na política. Na segunda (12), Geraldo Alckmin espraiou-se confortavelmente no centro da mesa de debates do tucanato em crise sobre ficar ou não com Temer.

    Enquanto jantava o partido, tornando-se a força dominante da agremiação, logo após o canto da fotografia um João Doria estava ereto, rígido, quase incomodado. Um aliado pronto para o combate, mas também um noviço recebendo acesso às esferas decisórias. A sucessão de 2018, à direita do espectro, se desenha naquela fotografia, de um jeito ou de outro.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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