• Colunistas

    Sunday, 19-May-2024 10:48:24 -03
    Igor Gielow

    Para ganhar, concorrente em 2018 terá de falar com eleitor atemorizado

    05/07/2017 07h00

    Luciano Belford/Agif/Folhapress
    Polícia Federal e Exército destroem 4 mil armas que foram apreendidas em operações, na zona oeste do Rio, nesta sexta-feira
    Polícia Federal e Exército destroem armas que foram apreendidas em operações, na zona oeste do Rio

    O brasileiro voltou a ser "meio de esquerda", como comemoram petistas e afins após a divulgação da mais recente pesquisa do Datafolha com o perfil ideológico dos nativos? Estão prontos para reinstalar o PT ou algum preposto à esquerda no Planalto em 2018? Devagar com a análise.

    O campo conservador entrou 2017 com todas as condições de impor um candidato virtualmente imbatível num segundo turno em 2018. Os efeitos das delações contra o governo Temer na Operação Lava Jato, abatendo inclusive alguns dos nomes do dito campo, progressivamente alteram esse quadro, mas não necessariamente para favorecer a esquerda.

    Ainda assim, o efeito visível é que mais pessoas voltaram a se dizer nesse campo. Quem ganha com isso? Lula, é claro. Mas o chefão petista também está na frigideira da Lava Jato, e sabe perfeitamente que o foco atual em Temer decorre do óbvio: quem está no poder chama mais atenção. Assim que a campanha estiver ativa, o alvo queimado em sua testa voltará a arder, se não tiver já sido utilizado de forma fatal.

    Há outros pontos. Um deles é o debate sobre conceitos, como considerar a defesa de uma agenda libertária como uma característica exclusiva esquerdista. E questões pontuais, como apoio ao porte de arma e a crença em valores cristãos, sugerem muito mais uma herança histórica do que um viés ideológico.

    De todo modo, me parece que outra pesquisa divulgada pelo Datafolha, sobre o medo de violência urbana, diz mais sobre aspectos que podemos esperar no debate eleitoral do ano que vem do que as já decantadas contradições ideológicas do brasileiro.

    Ali, nota-se que 60% das pessoas têm medo de sair à noite em sua vizinhança. Metade delas teme a polícia. Vultosos 35% unem os dois pavores num só sentimento. Isso diz mais sobre a precariedade moral e física a que nossos centros urbanos estão submetidos do que qualquer outra coisa.

    Enquanto a classe política se dissolve no ácido de seus malfeitos, Brasília vive a autofagia de seu corpo putrefato, o proverbial cidadão do bem (que é conservador em termos morais, apesar da crescente aceitação de agendas antes controversas para esse grupo, como as uniões homossexuais) tem medo de sair de casa.

    E depois perguntam por que um Jair Bolsonaro encontra seu nicho (15%, 20% de intenção de voto), com expressivos índices entre mais ricos e instruídos. Quem quiser ser presidente no ano que vem, seja de esquerda, centro ou direita, terá de olhar para esse eleitor atemorizado. Isso é tão vital quanto dialogar sobre saídas estruturantes para a economia ou não estar tostado pela Lava Jato.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024