• Colunistas

    Saturday, 27-Apr-2024 18:10:29 -03
    Igor Gielow

    Pós-Temer, com ou sem ele, põe Brasil entre o RJ e o desconhecido

    02/08/2017 02h00

    Eduardo Anizelli-27.jun.17/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 27-06-2017, 15h30: O Presidente Michel Temer, faz discurso acompanhado de Deputados Federais, no Palacio do Planalto, em Brasilia. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
    O presidente Michel Temer durante discurso no Palácio do Planalto

    Com a fatura ao que tudo indica praticamente emitida para a manutenção de Michel Temer por ora à frente da Presidência, salvo intercorrências de grosso calibre sempre possíveis no trem-fantasma em que passeamos, a pergunta que fica é o que se pode esperar dos 16 meses restantes de seu conturbado mandato.

    As miudezas éticas já foram rifadas há muito, como o espeto corrido servido a deputados ao longo da tarde da terça (1) no Palácio do Planalto comprova.

    Mesmo considerando que a campanha eleitoral vá pegar fogo cedo, no começo de 2018, ainda há um período razoável de "governo", aspas compulsórias.

    O Rio de Janeiro é um exemplo extremo, muito usado por políticos em conversas sobre seus temores para o futuro imediato. Insolvência seguida de desordem, militares tendo de tapar buracos, salvacionismos à espreita.

    Há uma certa dose de exagero na leitura, até porque a convulsão fluminense é fruto de uma estrutura peculiar, perpassada por décadas de infiltração de ilegalidades no cotidiano até desembocar na grande caveira de burro desenterrada pela Lava Jato.

    E, a despeito de todas suas mazelas, no limite o governo federal ao menos pode imprimir dinheiro para pagar seus barnabés. Ainda assim, muita gente séria vê o caráter de "espelho do Brasil" do Estado como um indicativo além do peso simbólico. Assim, olhando à frente, país se talvez se veja entre o Rio e um grande desconhecido.

    Em conversas recentes, figuras como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), debateram um plano de voo para esse "pós-Temer com Temer", como se diz por aí. Ou sem Temer.

    No caso dos dois, manterão apoio à tal agenda de reformas, o que hoje significa tentar fazer passar a idade mínima na proposta da Previdência e buscar apresentar pontos de mudança na área política e tributária. Concordam que é importante o Congresso assumir tal paternidade, já que tudo o que emana do Executivo acaba eivado pela impopularidade e desconfiança que rondam Temer.

    Como fazer isso e se afastar do peemedebista é um malabarismo ainda a ver, especialmente para Alckmin, que quer ser candidato a presidente por um partido que há meses não sabe se fica ou não alojado no Planalto.

    Há outras bruxarias à vista. Maia disse que gostaria de ver alguma agenda de segurança colocada em prática, o que é uma temeridade dado o histórico de iniciativas congressuais feitas na esteira de grandes crises ou episódios extremos. Se está de olho na candidatura de seu pai, Cesar Maia, ao governo do Rio, só posso desejar boa sorte na empreitada.

    A multiplicidade de facetas da crise dificulta a construção de consensos. Todas convergem, contudo, à economia. O nó fiscal aperta de forma brutal a retomada que se insinua e, mesmo que caia, o desemprego estará entre nós por muito tempo com os efeitos que uma voltinha no centro de qualquer cidade média pode atestar.

    Com a estiagem nos cofres federais, onde ontem faltavam passaportes amanhã poderá faltar remédio, exceto que, bom, comecem a imprimir dinheiro. Socorro. A área econômica terá de fazer mais do que entregar a promessa de que irá entregar algo.

    Entre o nada e a sobrevivência do país, o cardápio de coisas a esperar dos próximos meses parece depender mais da boa vontade, senão fé, do cliente.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024