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    Igor Gielow

    Crise sem fim do PSDB dá combustível à busca por alternativas para 2018

    08/11/2017 07h00

    Renato S. Cerqueira - 11.set.2017/Futura Press/Folhapress
    SÃO PAULO,SP,11.09.2017:ALCKMIN-FHC-DORIA-ALMOÇO-DEBATE-LIDE - (e/d) O governador Geraldo Alckmin, o ex presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito João Doria participam almoço debate organizado pelo grupo de Líderes Empresariais (LIDE), no Hotel Grand Hyatt em São Paulo (SP), nesta segunda-feira (11). (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress) ***PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS***
    Geraldo Alckmin, FHC e João Doria durante evento do Lide, grupo ligado ao prefeito de SP

    A desastrosa intervenção de Fernando Henrique Cardoso no bizantino debate sobre o apoio do PSDB ao governo Temer, gerando a ira entre dirigentes que apostavam na formação de um consenso razoável na convenção de dezembro, gerou alguma luz além de calor.

    Ou, para ficar com Pessoa, uma treva visível, já que o cenário iluminado se insinua negativo para o partido que saiu de 2016 com a certeza de que indicaria olimpicamente o próximo presidente. Ledo engano, mas voltemos ao princípio da conversa.

    FHC sempre defendeu a "pinguela" temerista alegando coerência, mas havia também faturas a receber pelos apoios ao impeachment. A improvável dupla Aécio Neves e José Serra viu oportunidades de capitalização política, e assim foi selada a união que garantia ao PIB o caráter transitório de uma gestão fadada a iniciar o trabalho mais difícil na economia. O resto ficaria para depois, como a composição média da Esplanada atesta.

    Só que veio o maio da JBS, que fez a mãe de todas as batalhas da Odebrecht parecer uma escaramuça no deserto. Arbitrariedades da Procuradoria à parte, os diálogos de Michel Temer e Aécio com Joesley Batista são césio-137 político.

    Naquele momento, a questão da presença tucana no governo ganhou um tamanho desproporcional. Mal comparando, poderiam ter feito como o PPS : fica quem quiser, por missão, e apoiaremos no Congresso as reformas. Aécio, obviamente, deveria ter renunciado à presidência da sigla. O pacote ficaria mais palatável para opinião pública, sem falar nos seus estridentes "cabeças-pretas".

    Mas o ambiente de corte de Constantinopla do partido já estava viciado pela tal perspectiva de poder, com dois presidenciáveis viáveis na pista: Geraldo Alckmin e João Doria. Isso fora os delírios relatados por aliados de Aécio e Tasso Jereissati sobre desejos planaltinos. Cada decisão tomada por caciques de várias linhagens do partido passou pela composição para 2018.

    Acelerando o relógio, passando um sem-número de crises, chegamos a esta semana. FHC escreve seu artigo cobrando o desembarque do PSDB, lavando as mãos do apoio que deu de saída e fortalecendo Tasso na disputa com Marconi Perillo pela presidência da sigla. Está chegando a hora em que só Alckmin, vendo seu barco partir-se em dois, poderá resolver a pendenga apresentando um "tertius" na disputa –ele mesmo ou algum aliado, embora o governador goiano seja sua escolha inicial.

    Em vez de discutir como vender seu candidato no feirão do ano que vem, o PSDB optou por debater a semântica de sua peculiar linguagem em público. Aqui entra a treva visível do texto de FHC: ela ilumina o quadro de possibilidades dentro do chamado "centro expandido" candidatos que não atendem pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva ou Jair Bolsonaro.

    A crise tucana anima o PMDB, o DEM, o PSD e o "Bible Belt" de siglas na órbita evangélica, como o PRB. Nota não casual, não foi exatamente uma questão de fé que levou Henrique Meirelles a ajoelhar-se ao lado de tantos pastores importantes neste ano. Hoje o ministro da Fazenda está mais candidato do que nunca, embora sejam claras suas limitações.

    A busca da elite pela alternativa do "novo" também está acelerada, pela evidência histórica de que o PSDB rachado não consegue eleger presidente e porque sua opção na categoria, Doria, está em momento de baixa na sigla –embora siga no radar da concorrência dita aliada.

    Mais um ponto para FHC e seu amigo Luciano Huck. Assim, no país em que humorista é levado a sério como comentarista político, um popular apresentador de TV envergando o apoio de um certo PIB financista e uma equipe de "notáveis" é excelente balão de ensaio neste momento. Até Marina Silva, que vem arrancando bocejos de seus mais aguerridos aliados, pode entrar nessa equação.

    Haverá exemplos estaduais disso, mas nacionalmente o jogo é mais complicado, a resiliência dos padrões eleitorais é grande. A busca pelo candidato perdido da elite empresarial e política do país continua, e não parece estar perto do fim.

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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