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    Igor Gielow

    Caso do cartel alimenta a discussão sobre volta da candidatura de Huck

    20/12/2017 02h00

    O que era um comentário lateral de conversas periféricas, mas de atores importantes, vem ganhando corpo entre integrantes do autoproclamado "centro": a possibilidade de ressurreição de uma candidatura presidencial de Luciano Huck.

    O apresentador global se cercou de profissionais ao longo daquilo que disse ser sua não-candidatura. Analisou pesquisas qualitativas e quantitativas, ouviu conselhos e sugestões de nomes de peso no debate público brasileiro -alguns, sem voto, talvez buscando governar por procuração.

    De todo modo, as sondagens reservadas indicavam uma chance grande de o nome do apresentador decolar. Não por acaso ele foi desejado por PPS, DEM, Rede e Novo -para não falar no PSDB, onde tem entusiastas na velha guarda do partido. Apesar das objeções óbvias a uma experiência dessas, a conversa deixou de ser mera especulação num dado ponto.

    O fator central que o fez anunciar a desistência daquilo que disse nunca ter postulado foi, segundo alguns desses assessores, a família. A perspectiva de ter cada aspecto de suas vidas ser escrutinado, e o escrutínio nesses casos já vem com viés, e a ideia de que a carreira de Huck e de sua mulher poderiam ser afetadas, tudo isso pesou.

    Definitivamente? Não, dizem essas pessoas próximas. O recuo estratégico retirou a pressão sobre Huck, que de todo modo tem até abril para ter sua eventual filiação a um partido político homologada a tempo de permitir que ele dispute o pleito de outubro.

    Quando o centro todo se prepara para a provável exclusão de Lula da urna eletrônica, ora aumentando o preço para apoiar os cada vez mais inseguros tucanos, ora para ensaiar quimeras próprias, eis que emerge a revelação do cartel de empreiteiras que operava sob governos tucanos em São Paulo.

    É um tiro na candidatura Geraldo Alckmin, o longevo governador. Pode não ser fatal, claro, até porque a esta altura não existe nada sobre corrupção -quanto mais envolvendo o nome do governador, considerado até por adversários como um político honesto. Mas até os cisnes do Ibirapuera sabem que, num caso desses, não há corrupção só de um lado do balcão, e é a agenda negativa que acaba falando mais alto.

    Com isso, gente de siglas interessadas no jogo do centro começou a sussurrar a necessidade de encontrar o tal "novo". E, sim, o nome de Huck voltou à roda. E não apenas entre gente do DEM ou do PPS: tucanos já acenderam o alerta amarelo sobre os riscos do caso cartel para Alckmin.

    Por óbvio, tudo isso é altamente especulativo. Não é possível saber ainda qual vai ser o real efeito do caso sobre o tucano, ou mesmo se o global toparia enfrentar a empreitada. É muito significativo da devastação provocada pelas revelações da Lava Jato desde 2014: a classe política praticamente não tem nomes a apresentar.

    *

    A coluna não será publicada na próxima quarta (27).

    igor gielow

    É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.

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