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    Italo Nogueira

    Se não usar inteligência, melhor Exército sair do Rio e ocupar Miami

    06/08/2017 02h00

    Apu Gomes/Folhapress
    A soldier takes position at Morro do Macaco slum in Rio de Janeiro, Brazil, during a pre-dawn crackdown on crime gangs on August 5, 2017. Thousands of Brazilian army troops raided Rio de Janeiro slums leaving parts of the city looking like a war zone. Their main goal was to stop gangs behind a surge in brazen robberies of commercial trucks, with arrest warrants issued for 40 people. However, the unusually aggressive operation also follows wider concerns that nearly bankrupt post-Olympic Rio is spinning out of control. / AFP PHOTO / Apu Gomes
    Soldado das Forças Armadas no Morro do Macaco, no Rio de Janeiro

    Há nove dias começou a operação "Rio quer segurança e paz". Além da falta de criatividade do nome, começou com o pouco imaginativo e antigo paliativo para crises de segurança no Estado: tropas das Forças Armadas nas ruas com blindados e homens equipados para a guerra.

    No anúncio, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, garantiu se tratar de emprego dos militares diferente do já feito. Agora, disse, tem como objetivo atacar as estruturas do crime organizado, não o patrulhamento na rua.

    A explicação dada para a presença repentina de blindados pela cidade naquele dia era de que tratava-se de uma fase de "reconhecimento de terreno".

    Melhor seria assumir a ação de marketing e mera exposição da tropa à cidade. Afinal, o que explicaria um blindado em plena praça Mauá, praticamente um quintal do Primeiro Distrito Naval?

    Numa apresentação a jornalistas na sexta-feira (4), o general Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, repetiu a velha ladainha de planos de segurança que se pretendem ambiciosos. Traçou como objetivos "ações de inteligência", "ataques às fontes de renda do crime organizado" e integração entre as diferentes agências de segurança.

    De positivo, apenas o reconhecimento de que nenhuma das intenções apresentadas ali eram novas. Etchegoyen disse que, de diferente, havia apenas a "decisão política forte" de atuação conjunta para o combate ao crime.

    "Ao longo de todos esses anos, nunca vi um presidente se reunir tanto para debater segurança", disse ele.

    A chegada das tropas federais no Rio ocorreu cinco dias antes da votação sobre a admissibilidade da denúncia contra Michel Temer na Câmara. Deputados fluminenses antes indecisos aderiram ao presidente no embalo da agenda considerada por eles positiva.

    Ainda que a decisão de emprego das Forças Armadas tenha seu componente político, os servidores de carreira à frente da operação merecem o benefício da dúvida. Ela deve durar até o fim de 2018 e se pretende distinta das demais.

    As tropas saíram das ruas na semana passada para uma segunda fase, classificada como de "inteligência e análise de dados". Neste sábado (5), uma megaoperação foi realizada, com eficácia ainda pouco clara.

    A ação que poderia inspirá-los é a que apreendeu 60 fuzis escondidos em aquecedores de piscina e bombas d'água. A partir dela, as autoridades descobriram uma quadrilha que enviou de Miami para o Rio ao menos 1.043 fuzis entre 2014 e 2017.

    Se for para usar as tropas como nas operações anteriores, melhor ter mais imaginação e ocupar de vez o aeroporto internacional de Miami.

    É repórter da Sucursal do Rio desde 2006. Recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência (2009) e conquistou por duas vezes o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo (2009 e 2014)

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