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    Ivan Finotti

    Medievais

    22/08/2013 03h00

    SÃO PAULO - Que vergonha para a cidade, que vergonha para o país, que vergonha para a humanidade a fotografia publicada na capa do caderno "Esporte" da Folha de anteontem.

    Nela, podem-se ver quatro torcedores do Corinthians segurando uma faixa com a seguinte inscrição: "Vai beijar á 'p.q.p.'... Aqui é lugar de homem" (sic). Atrás deles, uma cerca com arame farpado no alto completava o tom nazi-stalinista-orwelliano.

    O protesto se referia a uma foto em que o jogador corintiano Emerson Sheik aparece dando uma bitoca num amigo. Ambos têm mulheres, e Sheik escreveu o seguinte embaixo da foto, que ele mesmo publicou nas redes sociais: "Sem medo do que os preconceituosos vão dizer".

    Um desses, dirigente da torcida que organizou a manifestação, disse ao repórter Diego Iwata Lima: "Não é que a gente bate em quem é gay. Mas ele que fique na dele".

    Que alívio, não? Pelo menos esses autoimbuídos policiais da moral, esses salvadores da família, esses guerreiros dos bons costumes, esses seguidores dos preceitos divinos, pelo menos eles não espancam. Eles apenas tentam apavorar e cobrir de vergonha quem não é como eles.

    Assim, o Brasil se alinha com outro Bric, a Rússia, que recentemente viu uma explosão de casos de "supermachos" pós-adolescentes humilhando gays e distribuindo os vídeos com as cenas absurdas.

    Imagino que a causa desse "preconceito babaca", como disse o atleta Emerson Sheik, é o medo que esses corintianos têm de se tornarem motivos de chacota para palmeirenses, são-paulinos e santistas (torcidas que, possivelmente, carregam o mesmo número de homofóbicos em suas fileiras).

    As gozações realmente estão acontecendo, mas não como o esperado. Na terça-feira, um site humorístico (www.sensacionalista.com.br) já tirava sarro dos medievais: "Emerson Sheik é visto lendo um livro e irrita novamente os corintianos". Hahahaha.

    ivan finotti

    Escreveu até agosto de 2013

    É jornalista cultural há 20 anos e atualmente ocupa o cargo de editor de "Ilustrada". Recebeu o prêmio Esso de criação gráfica como editor do "Folhateen" em 2008. Passou por jornais como "O Estado de S.Paulo" e "Notícias Populares" e revistas como "SuperInteressante". É coautor da biografia "Maldito", sobre Zé do Caixão.

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