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    Jaime Spitzcovsky

    A saga do cão vermelho

    17/02/2013 03h00

    Controle remoto à mão, espremidos entre a miúda vira-lata Bianca e o robusto dogue alemão Bóris, tomamos fôlego, minha filha Silvia e eu, para devorar mais um DVD da nossa coleção de temas caninos.

    A sessão pipoca trazia "Red Dog", filme australiano de 2011 encontrado por acaso em uma megalivraria paulistana. Protagonizamos a famigerada compra por impulso, atraídos apenas pelo enredo, pois não tínhamos referências sobre a obra.

    Foram 92 minutos de encanto, alegria, deslumbramento e tristeza. Olhos pregados na tela do começo ao fim. Apreciamos, ao contrário dos sonolentos Bianca e Bóris, a jornada --baseada em fatos reais-- do personagem canino Tally Ho, exemplar da raça "kelpie", transformado em ídolo nacional na terra do dingo, o cão selvagem australiano.

    Ilustração Tiago Elcerdo

    Com inteligência e carisma, o astro descrito no enredo ajudou a modelar o dia a dia de comunidades remotas no oeste australiano, onde a vida espinhosa girava em torno da busca por minérios. Red Dog, que ganhou o apelido pela cor da pelagem e por carregar o pó rubro do deserto daquele país, perdeu o primeiro dono em uma morte precoce. O motorista de ônibus do vilarejo adotou o mascote. Mais uma tragédia e um acidente tirou a vida do segundo dono de Tally Ho.

    A comunidade se responsabilizou pelo animal. Popular e independente, ele se tornou integrante de um sindicato local, virou garoto propaganda de um banco. Passou a andar sem rumo por território australiano, em busca de seu primeiro dono, segundo reza a crença local.

    Um envenenamento abreviou a vida do cachorro, que virou estátua na localidade de Dampier. Antes disso, uma comoção tomara conta da zona mineradora.

    Naquelas paragens do velho oeste australiano, sobrevive até hoje um culto à memória do Red Dog, cuja vida proporcionou, além de filme, romance e poesia. O país do canguru se rendeu também a um cão.

    jaime spitzcovsky

    Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Na coluna, fala sobre relações internacionais, com atenção especial ao Oriente Médio. Escreve às segundas, a cada duas semanas.

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