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    Jaime Spitzcovsky

    Paixão caprina

    22/09/2013 02h30

    Nunca me imaginei apaixonado por um bode. Mas o dia chegou.

    No começo do ano, decidimos experimentar o convívio no sítio com caprinos, paixão despertada após visita a uma fazendinha em que as crianças interagem com animais. Minha filha se encantou com as cabras e, depois de alimentar as criaturas tão mansas, já pensou em fazer saias de tule para elas.

    Topamos, perto do nosso sítio, com um anúncio de venda de caprinos. Encontramos uma cabra com dois rebentos, e, em plenas festividades de final de ano, o destino mais provável deles seria o abate. Compramos a jovem família na hora.

    Levamos algum tempo para preparar as instalações adequadas e para conhecer meandros da vida caprina. Em poucos meses, livres do facão, chegaram Violeta e suas crias, Brito e Amora.

    Abria-se um novo capítulo em nosso bucólico cotidiano de fim de semana.

    Tinham me prometido animais dóceis e inteligentes. A família recém-chegada superou as expectativas.

    Violeta, Brito e Amora, ainda que sempre de olho num punhado de ração ou em folhas viçosas, demonstram carisma ímpar.

    Logo o cabrito começou a encorpar. E a carregar chifres cada vez mais imponentes. Na ebulição da adolescência, começou a brincar de dar cabeçadas.

    Especialistas falaram sobre os inconvenientes de manter um bode no sítio. Alertaram para o cheiro, para o comportamento irascível. Consultados, eram quase unânimes na opção de nos livrarmos do Brito, já que criação e reprodução profissional não correspondem a nossos planos.

    O casal de funcionários que cuida de Brito no dia-a-dia, alvo frequente das cabeçadas, deu um parecer contrário à saída do moleque caprino. Para eles, ganhos do convívio diário superam eventuais hematomas das brincadeiras brutas do cabrito. Os cornos de Brito tiveram as pontas aparadas, e veio a castração. Ninguém vai tirar o bode da nossa sala.

    jaime spitzcovsky

    Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Na coluna, fala sobre relações internacionais, com atenção especial ao Oriente Médio. Escreve às segundas, a cada duas semanas.

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