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    Jaime Spitzcovsky

    Após resolver crise interna, Egito retorna ao cenário diplomático

    04/12/2017 02h00

    Presidência do Egito - 21.nov.2017/Reuters
    O líder egípcio, Abdel Fattah al-Sisi (à dir.), recebe o premiê libanês, Saad Hariri, em meio a crise no país
    O líder egípcio, Abdel Fattah al-Sisi (à dir.), recebe o premiê libanês, Saad Hariri, em meio a crise no país

    Tradicional epicentro político do mundo árabe, o Egito promove ofensiva diplomática, a fim de recuperar peso perdido sobretudo entre 2014 e 2016, quando o presidente Abdel Fattah al-Sisi priorizou agenda doméstica, fortalecimento do regime e repressão a oposicionistas. Regime fortalecido e demandas regionais levam agora o Cairo a recuperar protagonismo no Oriente Médio.

    Nos últimos meses, o Egito patrocinou a aproximação entre grupos palestinos rivais, participou de diálogos na turbulência política do Líbano, costurou entendimentos para desaquecer a guerra da Síria e anunciou acordo militar com a Rússia. Intensificou aproximação com aliados tradicionais, como Arábia Saudita, na crise com o Qatar, e com Israel, para enfrentar a ameaça do grupo terrorista Estado Islâmico na península do Sinai.

    Tradição histórica, peso demográfico e musculatura militar, entre outros fatores, contribuíram para o Egito exercer ao longo do século 20 liderança no mundo árabe. Do Cairo, entre 1956 e 1970, o presidente Gamal Abdel Nasser inflamava multidões com discursos esculpidos pelo pan-arabismo, ideologia voltada a unificar países da região, e abria portas para a influência soviética.

    Anuar Sadat, sucessor de Nasser, abandonou a retórica pan-arabista, e, guiado pelo pragmatismo, arquivou ideias de destruir Israel e assinou acordo de paz com o antigo adversário, em 1978. Ao mesmo tempo, o Cairo trocava Moscou por Washington como principal fornecedor de ajuda militar e financeira.

    A guinada do Egito em plena Guerra Fria resultou em isolamento diplomático imposto por vizinhos árabes. Após o assassinato de Anuar Sadat em 1981, por fundamentalistas egípcios, chegou ao poder outro militar, Hosni Mubarak, responsável por diluir o boicote e recuperar liderança entre países do Oriente Médio.

    A Primavera Árabe, em 2011, afastou Mubarak. Eleições levaram ao poder Mohammed Mursi, do grupo Irmandade Muçulmana e arqui-inimigo da cúpula militar egípcia. Um golpe de Estado, em 2013, derrubou o governo, e o Egito retornava ao padrão clássico da hegemonia das Forças Armadas.

    Abdel Fattah al-Sisi, nas eleições presidenciais de 2014, amealhou 96% dos votos. Deve buscar novo mandato no próximo ano.

    Fortalecido no plano doméstico, apesar de desafios como o terrorismo, Sisi passou a investir na recuperação da influência egípcia no Oriente Médio.

    O Egito costurou recentemente tréguas entre governo e rebeldes na Síria, após receber sinal verde de russos e sauditas, forças preponderantes no conflito sírio.

    A ofensiva mais ambiciosa do Cairo, no entanto, se refere à questão palestina.

    A capital egípcia serviu de palco para assinatura de acordo de aproximação entre os rivais Fatah e Hamas, numa iniciativa a patinar em sua implementação.

    Em contraste com as ações incendiárias de Nasser, Sisi se posiciona como articulador. Dialoga com Donald Trump e Vladimir Putin, com israelenses e palestinos, com Bashar al-Assad e os rebeldes. Trata-se de papel relevante numa região pródiga em turbulências.

    jaime spitzcovsky

    Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Na coluna, fala sobre relações internacionais, com atenção especial ao Oriente Médio. Escreve às segundas, a cada duas semanas.

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