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    Janio de Freitas

    O novo antigo

    16/02/2014 03h00

    Novidade, mesmo, só a que vive a família de Santiago Andrade. No mais, a retumbância provocada pelas circunstâncias chocantes da morte de Santiago, e muito também por ser um profissional do jornalismo, compôs-se assim: uma bagagem de realidades já fartamente conhecidas, mas postas com embalagem de fatos novos. As razões de tal transfiguração podem ser encontradas, segundo a preferência do freguês, tanto no jornalismo atual como nos atuais enfrentamentos políticos. Difícil pode ser a separação das sutis diferenças entre uma coisa e outra. O que não será novidade no jornalismo, na política e muito menos para a cabeça do leitor/espectador/ouvinte.

    No depoimento sem o advogado que o deu como recebedor de R$ 150 por manifestação violenta, Caio Silva de Souza negou receber esta ou outra quantia. Sabe de dinheiro para passagens, de quentinhas, outros auxílios operacionais. Fatos, portanto, que textos e imagens noticiaram com abundância durante o acampamento na Cinelândia, a bagunça diante do apartamento de Sérgio Cabral e a invasão da Assembleia Legislativa.

    Novidade seria a remuneração de R$ 150. Da qual a família de Caio também nunca teve conhecimento. E não mencionada pelo outro acusado, Fábio Raposo. Nem pelo advogado Jonas Tadeu até a prisão de Caio. Assim como não confirmada pelo delegado Maurício Luciano. Não existe tal remuneração?

    Sem resposta. A hipotética novidade, por ora, só figura em afirmação e em desmentido de Caio Souza, e na insistência do advogado Jonas Tadeu em citá-la sem indicar alguma base para tanto. Se for novidade, só o será se e quando envolta em elementos mais seguros do que um preso que se contradiz e um advogado que já disse recorrer a inverdades.

    Os partidos PSOL e PSTU são os apontados como fomentadores e apoiadores materiais dos atos de violência, acampamentos e invasões. Sérgio Cabral, comentaristas, editoriais e políticos já diziam isso há oito meses, desde as badernas iniciais em vários estados. Os serviços de informação das polícias investigam o grau dessa vinculação há muito tempo. Sem conseguir até agora, que se saiba, mais resultados do que já era notório. Novidade, nenhuma.

    Nem sequer a ocorrência da morte em meio à arruaça violenta trai a regra do episódio. Mesmo aqui neste espaço, onde a futurologia não goza de prestígio, a tendência a um episódio fatal foi acentuada como efeito do desatino black bloc e dos choques com a PM. O que aconteceu foi terrível como se deu, quando e com quem se deu, mas não foi surpreendente que se desse. Seguiu a lógica previsível.

    FORAS

    Reinaldo Azevedo, na Folha de sexta-feira, incluiu este trecho: Janio de Freitas "referiu-se a mim - 'um comentarista que já aparecia na rádio...' - porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam arruaceiros". Admito perder muito, mas não sou ouvinte da Jovem Pan e das ponderações de Reinaldo Azevedo. O comentário por mim citado foi transmitido pela CBN, em torno de 12h20 de quarta-feira, como pode ser comprovado por meio do saite da emissora.

    Também não é verdadeiro que "Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino Guimarães, chefe de milícia". Para quem lê sem má-fé, ficou claro que citei Jonas Tadeu como ex-advogado de Natalino Guimarães para uma informação de entrelinha: os advogados de milicianos, e similares, em geral são definidos no meio advocatício, por suas artimanhas, com palavra que não desejei aplicar.

    Por mim, Reinaldo Azevedo pode continuar tentando.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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