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    Janio de Freitas

    A tão falada lição

    03/06/2014 02h00

    Passam menos depressa do que dizem, quando dizem que o tempo corre. Passam mais depressa do que se pensa, quando se pensa em vivê-los. São 64 anos. Por exemplo, entre este e 1950. Ano de muitas agitações.

    Na política, pela volta de Getúlio, se não para redimir-se da ditadura encerrada cinco anos antes, porque ditadura nenhuma tem redenção, para um governo que, mesmo inconcluído, legou ao Brasil os instrumentos que permitiriam fazer o grande país que não foi feito -Petrobras, BNDE, uma infinidade de outros.

    Entre tantas agitações mais, lá estava a Copa do Mundo, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial, no maior estádio do mundo, para fazer dos brasileiros os campeões mundiais.

    Nos 64 anos seguintes, Getúlio e seu governo desapareceram sob a dureza das versões degradantes e do getulismo mitológico. A Copa e seu final desastroso satisfizeram-se com explicação única e simples: fora do campo, os excessos da autoglorificação antecipada, com louvações e festejos movidos a políticos, artistas, jornalistas, a publicidade comercial; e, no campo, uma (inexistente) falha do goleiro das cores pátrias.

    Há 64 anos se repete essa ladainha de 50, como símbolo e como advertência. Quem quiser uma ideia melhor da explicação dada a 50, é fácil. Basta uma olhadela nos jornais e na TV, a gente da TV e outras gentes em visita à "concentração", a caçada a jogadores, convidados VIP para ver treinos, lá vai a estatueta ao palácio presidencial, os comandantes Felipão e Parreira são claros: "Nós já estamos com uma mão na taça".
    Igualzinho. Está nos genes.

    ONDE HÁ FOGO

    São duas CPIs da Petrobras, no Senado uma, outra na Câmara. Nenhuma das duas para apurar possíveis irregularidades e eventuais responsabilidades.

    A prioridade para o PT, parte do PMDB e outros aliados é proteger de riscos o governo. Riscos que, a existirem, voltam-se menos para o atual governo do que para o governo Lula, quando se deram os fatos questionados, nas refinarias de Pasadena e de Abreu e Lima. O PSDB, o DEM e a parte do PMDB que faz jogo duplo só estão dedicados à exploração política do tema, em busca de imaginados lucros eleitorais.

    Se um assunto desse quilate, até com repercussão nas atividades internacionais do país, dada a expressão da Petrobras (provavelmente a quinta maior petrolífera do mundo), é submetido a interesses meramente eleitorais, não há como duvidar: o que está errado nos processos políticos é muito mais grave do que as causas já motivadoras do repúdio público aos partidos e seus parlamentares.

    E, no entanto, não se pode esperar que as próximas eleições de deputados e senadores não sejam senão para continuar o que aí está. Até onde e até quando, esta é a incógnita. Ou as centenas de ônibus incendiados, por exemplo, e demais violências, começam a falar de outros fogaréus? Com e sem fumaça.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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