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    Janio de Freitas

    Caçadores eleitorais

    12/08/2014 02h00

    Os sinais, em momento tão inicial da disputa, sugerem mais uma campanha grosseira, de escassíssima inteligência, acafajestada mesmo, não por um lugar de vereador em sertão de jagunços, mas pela Presidência da República. As eleições tanto situam o Brasil como uma democracia política quanto o caracterizam como um país politicamente primitivo: ainda no nível zero em cultura política.

    A primeira campanha presidencial no pós-ditadura parecia acidental. Os métodos do bando que circundou o falso "caçador de marajás" não podiam ser o que o Brasil tinha a mostrar, eleitoralmente, depois do regime dos retardados políticos e culturais. A intimidação, a violência, a corrupção escancarada entre o poder econômico e o bando do "caçador" compuseram, porém, o modo de buscar a preservação das condições econômicas e sociais. Modo por fim consagrado com ordinarices policiais e televisivas.

    Não mais se chegou a tanto. Mas a eleição presidencial como um processo de deformações e apelações grosseiras ficou vinculada à democracia política à brasileira. Na segunda eleição presidencial pós-ditadura, as exacerbações petistas foram o falso pretexto para a retirada da igualdade de condições entre os candidatos, com a aberração do favorecimento ao preferido pelo que muitos chamam de poder midiático. Força transplantada para a terceira disputa eleitoral, a da primeira reeleição, e mantida nas seguintes com a artilharia das acusações e do clima "eu estou com medo".

    Lideranças na Câmara e no Senado agem, neste princípio de campanha, como pequenos discípulos do "caçador de marajás": para tudo têm ferozes acusações de crime e ações judiciais prontas. Na hora de ir para a CPI, com a oportunidade de fazer interrogatórios substantivos sobre ocorrências na Petrobras, nenhum é visto. Estão em inventado recesso, não como caçadores, mas como marajás do Congresso.

    Não surpreende, nesse gênero de campanha, o constatado ressurgimento do sórdido gênero "eu tenho medo". Com o qual a campanha pró-Aécio, na internet, associa Eduardo Campos à ameaça, em caso de vitória sua, de socialização dos bens particulares.

    Como começo da eleição presidencial à brasileira, não poderia ser mais sugestivo.

    SELETIVOS

    O noticiário sobre os negócios e ligações do doleiro Alberto Youssef refere-se, com frequência, a R$ 10 bilhões que ele teria movimentado em operações de lavagem de dinheiro e remessas para contas sigilosas no exterior. Com o interesse eleitoreiro de fixar o caso nas relações entre Youssef e pessoas que possam comprometer a Petrobras e o governo Dilma, os bilhões pairam no noticiário como almas penadas. A própria Polícia Federal não lhes dá um sentido.

    É o que não falta, porém. As remessas por meio de doleiro, para depósito em contas sigilosas no exterior, são a mais usada cobertura de corrupção paga a representantes de governo por empreiteiras de obras públicas e grandes fornecedores.

    As relações de Youssef nesses setores são notórias. Se as suas ligações com gente da Petrobras e do Congresso são levantadas e noticiadas, seria razoável ver o mesmo com nomes de empreiteiras e de seus dirigentes que motivaram o movimento dos tais bilhões, ou de um punhado deles.
    É curioso como tudo se desencaminha quando chega às empreiteiras.

    AMERICANA

    Bombardear o Iraque? Opa, fim do tédio.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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