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    Janio de Freitas

    Em torno do avião

    26/08/2014 02h00

    Passados 13 dias da morte de Eduardo Campos, a Polícia Federal ainda procurava, com magra esperança de encontrar hoje, informação clara e segura sobre a situação (i)legal do avião e do uso que dele fazia o candidato. Ninguém do PSB, do comitê de campanha ou da família dera alguma indicação útil. Nisso está o suficiente para saber-se que o pequeno mistério não é sem causa. Ainda antes da queda, aquele avião já era portador de um risco desastroso para as pretensões políticas de Eduardo Campos. Com provável corresponsabilidade dele ou não, tanto faz.

    Sejam quais forem os esclarecimentos vindouros, se causarem surpresas não estará entre elas o nome de Marina Silva. A composição que a comprometeu com a campanha foi muito posterior à inclusão do jato nas atividades de Eduardo Campos e do PSB. A cobrança que Aécio Neves faz de explicações de Marina Silva, sobre as suspeitas de irregularidades no uso do jato, é mais do que imprópria: é uma apelação imoral. E pior porque justificada por Aécio como contrapartida às cobranças sobre a construção do aeródromo em Cláudio-MG. Aí já é também falsificação de equivalências.

    Não é melhor moralmente a resposta transgênica do vice de Marina Silva, Beto Albuquerque, abrigado na chapa apesar de identificado, por posições no Congresso, com propósitos da multinacional do agrotóxico Monsanto. Quando Marina Silva foi indagada em São Paulo sobre a situação do jato, Beto Albuquerque apressou-se em assumir a resposta, para dizer, entre outras fugas sobre "essa pauta de quem contratou" o avião: "O mais importante é saber como os sete companheiros morreram".

    Não é o mais nem o menos. Um assunto não tem a ver com o outro, nem um deles serve para encobrir o outro. Beto Albuquerque tinha na Câmara, e mantém como candidato, responsabilidades de liderança no PSB que tem o que dizer, à Justiça Eleitoral e à Polícia Federal, no mínimo sobre os gastos com o avião.

    UM MOMENTO

    O Brasil não é injusto só de cima para baixo. A criminalidade de baixo para cima e o ressentimento de certa classe média (sobretudo a que se supõe "de esquerda") em relação a toda riqueza são fontes também de muitas formas de injustiça. Antônio Ermírio de Moraes foi uma das vítimas desse ressentimento, quando a CPI de Collor/PC Farias concentrou sobre ele a gana contra patrocinadores da dupla. Antônio Ermírio foi convocado à CPI, assediado por inquiridores, logo teria um dos filhos descabidamente convocado pela Polícia Federal.

    Não foi Antônio Ermírio quem atendeu o pedido de contribuição à campanha feito por PC Farias ao Grupo Votorantim. Foi seu irmão José Ermírio, presidente do grupo. Mas Antônio Ermírio aguentou tudo sem jamais comprometer o irmão. Nem aceitou qualquer artifício para ver-se poupado da situação injusta, que o deixou doído por muito tempo.

    Há momentos que bastam para definir uma pessoa.

    TUDO IGUAL

    A notícia de presos decapitados no presídio de Pedrinhas, Maranhão, horrorizou-nos no Brasil civilizado, pela ferocidade ainda viva no atraso do Norte. Os dois mais recentes decapitados o foram no presídio de Cascavel, no rico e civilizado Paraná. O Norte tem razão de estar horrorizado com o Sudeste-Sul.

    A tão proclamada unidade do Brasil existe mesmo.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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