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    Janio de Freitas

    Os enganados e o mentiroso

    26/10/2014 02h00

    O Brasil não fica dividido em razão da disputa eleitoral equilibrada, ou que assim aparenta nas pesquisas. Por um simples e persistente motivo: o Brasil É dividido. Desde que se tornou país.

    A ideia de que o Brasil se divide agora é uma visão enquadrada no presente. Para não irmos mais longe, no conveniente olhar retroativo, a Revolução de 1930 foi a reação dos alijados na divisão que contrapunha a riqueza dominada por São Paulo-Minas ao restante do país.

    O getulismo, que ali se originou e perdurou até 1964, manifestou de duas maneiras a continuidade da divisão. Uma, por si mesmo, como ditadura, depois quando reposto no predomínio político por eleição do próprio Getúlio e, mais tarde, no governo João Goulart; a outra, na reação que precisou encarar. Nesse embate, a semelhança de forças, entre as duas partes da divisão, resultou na instabilidade institucional e política como longa norma brasileira.

    O golpe de 64 foi efeito da divisão entre as forças do conservadorismo e as que clamavam por acesso a mais direitos e alguns bens, por meio das reformas chamadas de estruturais nos anos 50 e de base nas reivindicações mais intensas e extensas do governo Jango. Os militares da ditadura jogaram no lixo da estupidez, mental e física, a oportunidade de atenuar a divisão. Silenciaram-na, apenas, à força contra a parte carente e, quanto à segunda, prestando-lhe os serviços desejados.

    Com outra fisionomia, como por efeito de uma plástica, e como se deu nas eleições pós-ditadura militar, o que compõe a disputa eleitoral de hoje são as representações da continuada divisão do país.

    Com as respectivas bandeiras de políticas convenientes ao capital e políticas de redução das desigualdades entre as classes que distinguem os brasileiros.

    São partes inconciliáveis. Quem fala em unidade como tarefa do novo período presidencial ainda não percebeu nem a divisão pregressa do país. O máximo que as partes da divisão podem aproximar-se foi o que testemunhamos a partir do primeiro mandato de Lula. Período em que os possuidores da riqueza puderam multiplicá-la, graças ao governo, e as classes da parte de baixo da pirâmide social tiveram oportunidade de emprego, aumento do valor salarial e outros ganhos, e algumas melhorias importantes nas condições de vida.

    Enganam-se muito os que imaginam divisão surgida no presente e unidade a ser conseguida no futuro perceptível.

    NA FRAUDE

    A última investida originada na imprensa para interferir na disputa eleitoral -última, bem entendido, até a hora em que escrevo- é feita com o nome do doleiro Alberto Youssef, com abuso do condicional ("teria dito", "teria feito"), com um hipotético delegado sem nome e com um tal depoimento de cujo teor nem o advogado do depoente ouviu falar.

    Dado apenas como doleiro, Alberto Youssef é mentiroso profissional. E negócio são importações mentirosas para exportar dólares como pagamentos. Sua atual busca de delação premiada, em troca de liberdade apesar de criminoso confesso e comprovado, não é a primeira. Voltou a ser preso, há seis meses, porque, desfrutando de liberdade concedida pela Justiça como prêmio por antigas delações, dedicou-se aos mesmos crimes que se comprometera a não repetir. A delação premiada e o acordo com um juiz foram ambos mentirosos.

    A investida e seus instrumentos são componentes que se mostram, como em outras eleições, da velha divisão do país.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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