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    Janio de Freitas

    Como um paredão

    28/12/2014 02h00

    Nem há no Brasil grandes figuras para compor um ministério de notáveis, nem seria preciso dar encerramento melancólico a um mandato difícil, com o anúncio de uma nova composição ministerial recebida por crítica ou por indiferença. Há uma explicação para isso, que muitos podem considerar suficiente para justificar a cara do novo mandato. Mas não é.

    Em vez de escolhas que fizessem esquecer a média lastimável do ministério no primeiro mandato, Dilma Rousseff deu prioridade à montagem de uma estrutura política forte, capaz de se impor em duas frentes. Uma, a do Congresso, que lhe deu quatro anos de problemas ininterruptos e custo político muito alto para cada solução. Outra, a que começa a combinar a hostilidade dos meios de comunicação, também constante e indiscriminada no primeiro mandato, e o despertar feroz da oposição. Este, ainda a se confirmar, porque dá trabalho.

    O futuro ministério tem tropas mais firmes no Congresso, atendendo a quase tudo o que ali pesa, e nos Estados mais representativos na opinião pública. Mas a prioridade ao político tem outra outra face: é sugestiva de que Dilma não pensa no segundo mandato como uma administração de passadas largas e inovadoras, com realizações e ampliações que, por si mesmas, dariam ao governo sustentação para atravessar os quatro anos e chegar sem medo a 2018. O que se insinua é mesmo a concepção do botafoguense Joaquim Levy: investimentos e transformações sociais rebaixados para a segundona.

    INDIRETOS

    Com a posse agora de Luiz Fernando Pezão, estará completada uma eleição peculiar no Rio, com muitos votos dados a dois não candidatos.

    É incalculável, mas importante e talvez até determinante, a massa de votos dados a Pezão —muitos esquecendo a rejeição ao PMDB fluminense e a Sérgio Cabral— pelo desejo de duas permanências. Uma, a do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, alvo de incompreensões suspeitas ou pouco inteligentes, mas também da percepção de que seus modernizadores planos vão se impondo, na complexa luta contra a criminalidade armada. O crime continua em toda parte, mas o ambiente urbano no Rio é muito diferente do encontrado por Beltrame.

    A outra permanência é a da parte do Estado em várias das dezenas de obras que o prefeito Eduardo Paes faz no Rio. Muitos componentes desse projetos cabem, por força de lei ou de fatores urbanísticos, ao governo estadual, e correram risco de continuidade se eleito um dos adversários dos peemedebistas Pezão e Paes. A cidade está passando por transformações de uma audácia racional e formal como não via desde o histórico Pereira Passos, prefeito no início do século passado. Com outra raridade: nada do que é prioritário está em Ipanema, Leblon, Copacabana e demais Zona Sul.

    AS VITORIOSAS

    Quando se escreva sobre o que foi o primeiro mandato de Dilma, as mulheres que o integraram merecem um realce especial. Em comparação com o mais numeroso e prestigiado grupo dos homens, o das ministras é que foi exemplar no cumprimento dos objetivos, na sobriedade imposta às suas áreas e na discreta conduta pessoal. Mesmo Marta Suplicy, que de início confundiu Ministério da Cultura e Ministério da Costura, e logo imaginou desfiles em Paris, só voltou a ser Marta Suplicy já perto de sua antecipada saída do quadro.

    As mulheres que continuem no ministério já justificaram sua presença. A novata Kátia Abreu vai se expor a uma comparação, para frente e para trás, de alto risco.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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