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    Janio de Freitas

    Andares da crise

    09/04/2015 02h00

    Recebidos, até para não fugir à regra da Presidência, como operações desastradas, o convite recusado pelo ministro Eliseu Padilha e o convite aceito pelo vice Michel Temer, para a coordenação política do governo, compõem a primeira operação promissora da ininteligível Dilma Rousseff do segundo mandato.

    O período de Eliseu Padilha como ministro de Fernando Henrique mostrou, além de inteligência do companheiro de Nelson Jobim na advocacia, um político sagaz e hábil. Foi o que agora a sua recusa ao convite confirmou. E mais ainda o seu passo seguinte: a ele é atribuída a sugestão de Michel Temer como o dotado das condições políticas e pessoais para obter de Eduardo Cunha e Renan Calheiros um refreamento dos seus ímpetos atuais, e enfim ouvir e talvez negociar.

    Temer é calmo, mantém certa distância respeitosa e elegante, conhece o território e detém um posto-chave para as circunstâncias. Não o de vice-presidente da República, que hoje Eduardo e Renan supõem olhar de cima. O de presidente do PMDB, e portanto deles, visto e ouvido no partido com atenção e seriedade.

    Como coordenador político ligado às duas principais partes a serem coordenadas, Michel Temer será um fator de constrangimento para as atitudes provocativas que têm suas impróprias fontes nas presidências da Câmara e do Senado. Com isso, "a crise" transfere-se, sob o correto nome de "problema", da Presidência da República para o PMDB. Eduardo Cunha e Renan Calheiros perdem a liberdade de afrontar o governo e seus representantes, porque ao fazê-lo estarão afrontando o respeitado presidente do seu partido. O que, com muita probabilidade, levaria o próprio PMDB a uma crise muito prejudicial ao partido que sonha com iniciar nova inserção nas eleições, em linha própria.

    Eduardo Cunha e Renan Calheiros não precisam mudar as respectivas estratégias, se as têm, mas, se não quiserem a crise em casa, lhes conviria mudar a linguagem e os modos excessivos de suas táticas. O que pode até, quem sabe, beneficiá-los, já que os seus desgastes emitem sinais claros. E para o governo será o bastante a justificar o convite ao vice Michel Temer.

    NA MESMA

    A possível fusão de PTB e DEM é casamento de traidores. No DEM (ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) traem sua origem na ditadura e sua posterior fidelidade à vocação elitista. No PTB traem até o próprio nome.

    E são traições sem vergonha.

    COAUTORES

    Um grupo de integrantes da manifestação em defesa da CLT, e contra o aumento da terceirização votada no Congresso, levou porretes improvisados para resistir à polícia. Os policiais de Brasília portavam o mesmo, com a forma apropriada. Mais do que o suficiente se queriam enfrentar-se. Mas Eraldo Peres captou para a agência AP, e "O Globo" publicou, o momento em que um policial, em posição de tiro, aponta uma pistola em direção a manifestantes.

    Mandar contingentes policiais com armas de fogo para manifestações políticas é, no Brasil, uma responsabilidade que, além de impune mesmo quando leva a assassinatos, nem ao menos é comentada. É como um direito tido sem ser concedido.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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