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    Janio de Freitas

    Caras do Brasil

    31/05/2015 02h00

    Muito mais do que mostrar o que tem sido a cúpula do futebol no mundo, o escândalo da Fifa mostra ao mundo o que é o Brasil. Como se ainda fosse necessário fazê-lo.

    A Fifa, que recebe aqui o tratamento apropriado para os covis, baniu dos seus quadros, há muito tempo, os ilustres brasileiros João Havelange e Ricardo Teixeira, seu ex-presidente e o ex-conselheiro por ela declarados catadores de suborno e de outros modos de corrupção. Nem depois disso a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público (o Federal e o do Rio) foram capazes de dar aos dois as consequências da lei. Ambos enriquecidos, muito antes de chegarem aos balcões internacionais, aqui mesmo na CBD/CBF.

    A aparência é de que Ricardo Teixeira tratou de escapar para Miami. Mas não o fez, de fato, senão para as delícias de que desfruta em sua mansão. Os vários processos que ainda tem no Brasil jamais o incomodaram, tal como os anteriores. Havelange tornou sua velhice suportável em um dos prédios magníficos de São Conrado. A rejeição da Fifa não chegou ao prestígio social de ambos.

    Da arquibancada ao poder econômico, que é o maior poder por aqui, Havelange e Ricardo Teixeira faziam uma síntese perfeita e discreta do Brasil. José Maria Marin, o mau discípulo, escancarou. Já se percebe que as autoridades brasileiras sentem necessidade de adotar iniciativas. Deve ser o melhor que pode acontecer a Marin.

    PARLASHOPPING

    Eduardo Cunha providenciou a inclusão, na medida provisória 668 sobre alíquotas do PIS-Pasep, da construção do shopping do Congresso. O Senado seguiu a Câmara e aprovou toda a MP. Mas Eduardo Cunha fica irritado quando essa sua obsessão é chamada de shopping e, pior ainda, já apelidada de parlashopping.

    No entanto, é só isso mesmo. Uma obra que, sem ter projeto, já tem o custo calculado em R$ 1 bilhão, com gabinetes desnecessários e amplos como desejado pelos deputados, e lojas, lojas e mais lojas.

    Duas imoralidades em uma: o contrabando do shopping na MP e a sua aprovação pela Câmara e pelo Senado, que aprovam, sob o falso nome de ajuste, medidas perversamente prejudiciais aos assalariados, aos aposentados, à Educação e à Saúde.

    Diante da indignação que a presença e aprovação do shopping causou em alguns senadores, e prevenindo reação forte (que não houve) da imprensa, Renan Calheiros recorreu ao seu experiente escapismo: "Isso é da autonomia da Câmara".

    Não é verdade. Tanto que foi à votação do Senado. Onde Renan Calheiros contribuiu para o truque de votar a MP perto do prazo em que caducaria: se feita alteração no Senado, deveria voltar à apreciação pela Câmara, e ocorreria a extinção do prazo.

    Em seu exaltado discurso contra o golpe do shopping e contra o próprio, disse o senador Jader Barbalho que "só falta uma medida provisória que inclua a construção de um motel". Não haverá, talvez, porque é desnecessária: para a mesma finalidade são usados os gabinetes.

    SEM MÁSCARA

    Na hora da verdade, o chão do plenário da Câmara ficou repleto de máscaras de bem-intencionado. O PSDB e seu líder, Carlos Sampaio, deixaram cair 46 de uma vez com esses votos pela permanência do dinheiro de empresas para financiar candidatos –a velha causa da corrupção mais devastadora.

    Entre as propostas de "reforma" ainda a serem votadas, uma pretende estapafúrdia redução da idade mínima para senador: de 35 para 29 anos. Só podia ser coisa de má-fé, mas o que seria? A repórter Júnia Gama descobriu.

    Não lhe bastando prestar-se ao serviço de substituir o relator Marcelo Castro, destituído por não fazer o relatório como desejado por Eduardo Cunha, o deputado Rodrigo Maia se dispôs a outro serviço deplorável.

    Como não chegará aos 35 anos para candidatar-se ao Senado nas próximas eleições, o milionário deputado paraibano Wilson Filho conseguiu que Rodrigo Maia proponha, como relator, a redução da idade mínima de governadores e seus vices, de 30 para 29. E no bolo inclua os senadores.

    Rodrigo Maia (de Cesar Maia) é o apagado líder do fosco DEM. Deve ter recebido uma quantidade grande de argumentos para servir ao petebista paraibano.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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