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    Janio de Freitas

    Em causa própria

    02/06/2015 02h00

    Tudo depende ainda do que os quase silenciosos senadores venham a dizer, quando lhes chegar a hora de definir-se sobre as aprovações chamadas na Câmara de reforma política. Todo otimismo a respeito será imprudente. Mas não é o caso de desprezar um ou outro indício de melhor dose de responsabilidade e civismo no Senado do que o demonstrado na Câmara.

    Até agora, tivemos os deputados aprovando o que lhes convém, sem que apareça qualquer outra consideração nos acertos e, depois, nas votações. Os deputados fazem reforma em causa própria. Se faltassem outras demonstrações dessa sujeição do institucional ao pessoal, para torná-la incontestável bastaria citar a inversão, em menos de 24 horas, da recusa em aprovação do dinheiro de empresas para as campanhas eleitorais. A doação só por pessoas, que proporcionaria menos apropriação de doações por candidatos e menos oportunidades de corrupção, não resistiu ao interesse pessoal.

    É claro que as coincidências de interesses, entre os senadores e os deputados, serão prioritárias nas votações do Senado. Mas há temas importantes para os senadores, sem que o sejam tanto para os deputados. Além do tempo de mandato dos senadores, ainda por ser definido na Câmara, a duração dos mandatos de governadores, por exemplo, suscita muito mais interesses no Senado do que na Câmara: os senadores, em geral, têm mais condições políticas de candidatar-se aos governos estaduais.

    Assim há vários temas com aparência secundária e, no entanto, com significação capaz de revelar repentina influência no rumo das votações. Mas outro fator de influência, mais político, merece atenção para seus desdobramentos e possíveis resultados.

    O PTB e o DEM desistiram da fusão. Dificuldades regionais de conciliação contribuíram para o desenlace na hora do enlace. Mais ainda, porém, pesou a divergência em relação ao governo, sendo o DEM oposicionista a reboque do PSDB e estando o PTB apegado aos oportunismos, ora oposicionista, ora governista. A desistência de fusão deverá modificar as votações do casório, se efetivado, na reforma política. O mesmo, por sinal, no mal denominado ajuste e demais projetos do governo.

    No Congresso, maio traiu mesmo a sua legenda de mês dos casamentos. Também PPS e PSB desistiram da fusão. O PPS continuará alinhado ao PSDB. O PSB, que não aceitava bem esse alinhamento como premissa, volta a estar dividido quanto ao governo e quanto a vários quesitos da reforma. Ao cair a possibilidade de seu alinhamento ao PSDB, cai também, por consequência, a adesão a Eduardo Cunha.

    Adesão que, agora em referência ao PSDB, leva a mútuo desagrado as bancadas do partido na Câmara e no Senado. Os peessedebistas do Senado não se deixaram seduzir tanto por Eduardo Cunha quanto os seus colegas deputados.

    As definições dos senadores, no exame das aprovações dos deputados, não fazem o destino definitivo dos projetos votados, que voltarão à Câmara. Mas eventuais divergências e reações do Senado têm, como é usual, repercussão maior nos meios de comunicação e na opinião pública. Logo, também em bancadas partidárias na Câmara, quando da segunda votação das propostas. Otimismo injustificável não é, portanto, negação antecipada de alguma melhoria do produzido pelo predomínio do interesse pessoal na Câmara.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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