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    Janio de Freitas

    Os desajustados

    04/06/2015 02h00

    A orientação do comando petista aos esperados no congresso do partido, para que não façam críticas a Dilma por sua política de "ajuste fiscal", não é a mais justa. Dilma não merece silêncio, merece muito aplauso. E seu parceiro Joaquim Levy não pode ser esquecido.

    Em apenas quatro meses, a política de retração econômica adotada por Dilma e traçada por Levy conseguiu chegar ao fim de abril, como divulgado ontem pela IBGE, com a taxa de desemprego elevada a 8%. Quase, faltando muito pouco, o dobro de outra taxa já obtida pelo atual governo, quando Dilma repudiava a política neoliberal que Levy já rezava.

    E olha que o novo índice está atrasado. Com perto de um milhão a mais de desempregados entre fevereiro e abril, há ainda, para o total, o contingente dos desempregados de maio. E quando os petistas se reunirem, a partir do dia 11, a defasagem do dado e o desemprego feito por Dilma e Levy serão ainda maiores.

    O mesmo se pode dizer da queda de consumo das famílias, basicamente o alimentar. Da classe média para cima, não há essa redução. Já se vê quem compra menos alimentos. E assim, na conexão de aumento do desemprego e queda do consumo alimentar, o governo acha que está fazendo combate à inflação.

    Entre o silêncio e o aplauso para mascarar a opinião, não há diferença no autoritarismo de quem ordena e na sujeição de quem se submete. Se a política neoliberal e o consequente desajuste social não são criticáveis, são aceitos. Se aceitos, aplaudir a veloz e progressiva conquista dos seus objetivos é o lógico e o justo.

    O PT quer um congresso com censura prévia. Não há por que não a fazer até o fim. Já que não admite sequer crítica, cabe-lhe aplaudir de uma vez o ajuste fiscal que não passa de maior desajuste social.

    IDEM

    Arnaldo Madeira é seguido por Alberto Goldman na reprovação às votações do PSDB, na Câmara, contra criações e teses do partido, como a reeleição e o fator previdenciário, ou a favor do distritão. Ambos (Goldman em carta a dirigentes peessedebistas) apontam a falta de debates no partido, opinião também de vários outros.

    Mas que debate? Debate permanente era a ideia de Franco Montoro e Mário Covas, assim como o revezamento na presidência partidária a cada três meses, ao fundarem o partido promissor de uma linha social-democrata. Nunca mais houve debate, de coisa alguma. Nada mais claro, nesse sentido, do que a decisão pela candidatura de José Serra à Presidência da República, tomada por Fernando Henrique, Tasso Jereissati, Sérgio Guerra e Aécio Neves em um restaurante em torno de garrafas de vinho. E depois a de Aécio, em circunstâncias idênticas.

    Enquanto os interesses eram os mesmos, o PSDB pôde passar a aparência de unidade nas votações. Quando Eduardo Cunha semeou interesses diversos, os deputados peessedebistas mostraram-se iguais às bancadas de conhecida suscetibilidade.

    Só o PSDB não sabe que nada mais tem de PSDB. Não é por engano que está em entendimentos para com o PMDB para algo como uma aliança estratégica. É, partindo de posições muito semelhantes, pelas semelhanças a que chegaram depois das diferentes deformações.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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