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    Janio de Freitas

    Talvez uma novidade

    02/07/2015 02h00

    Lula na ativa: se não ocorrer um imprevisto, suas reuniões com parte da cúpula do PMDB e, depois, com parlamentares do PT são como o esquentar de motores. Já proporcionaram, porém, duas observações sugestivas de sua interpretação do momento, ou da sua linha de ação.

    O encontro com peemedebistas ficou restrito ao nível de senadores e ex-senadores. É notório, porém, que está na Câmara, e não no Senado, o embaraço do governo e do PT com os peemedebistas. Mas a conversa apenas nas alturas senatoriais podia oferecer um modo sutil de não incluir Eduardo Cunha na conversa com algumas franquezas. Encontro proposto por Lula mas, em outra escolha sugestiva, feito na casa de Renan Calheiros.

    As informações sobre a conversa são poucas e esparsas. Ainda assim, é certo que Lula considera a melhoria e a intensificação das relações de Dilma "com os chefes dos Poderes" como um ponto de partida com grande potencial para distender o ambiente de crise. É uma ideia curiosa, porque a Eduardo Cunha o que menos interessou até agora, e a atitude de Renan Calheiros o segue, foi aproximação com Dilma e distensão do ambiente. O seu projeto não vem daí e não vai para aí.

    Ainda nesse capítulo, não chega a ser curioso, mas é sugestivo que Lula, embora ache que Dilma deva fazer a aproximação, apresente a proposta aos peemedebistas. Não a ela. Ou já fez, em vão, ou tem outro motivo para não a levar a Dilma. As duas sugerem ter a mesma causa.

    Lula na ativa pode ser o surgimento, afinal, de alguém que procure levantar um contraste para Eduardo Cunha e dar algumas respostas à oposição. O que o PT inteiro se mostra incapaz de fazer, mesmo não faltando elementos históricos e atuais para sobrepor o debate ao uníssono permitido à oposição –e, por sinal, usado de maneira tão medíocre.

    Se Lula quiser sair do volume morto em que se vê, pode ser ao menos uma novidade na platitude deste meio ano do novo mandato da nova Dilma.

    EM TEMPO

    A menção, feita aqui, a Itamar Franco e Jânio Quadros como presidentes que não mantiveram relações próximas com empreiteiros, lembrou a Monica Bergamo, a repórter absoluta, que a fase final da carreira de Jânio teve presença marcante da Andrade Gutierrez. Inclusive quando ele foi prefeito de São Paulo pela segunda vez e a empreiteira ganhou contratos na prefeitura.

    Como candidato à Presidência, Jânio teve a maior parte da campanha financiada pelos graúdos do café, sobretudo exportadores como Mario Wallace Simonsen, criador e dono da TV Excelsior. Presidente, Jânio iniciava o apoio a esses exportadores na luta contra o truste chefiado pelos Rockfeller, que procurava esmagá-los para não concorrerem com os interesses de capital americano no café colombiano.

    UMA CONQUISTA

    Em outros tempos, nem por isso saudosos, estaria em todas as primeiras páginas. Não mereceu sequer publicação ontem, ou ficou em humilhante insignificância: a Organização Mundial da Saúde (ONU) confirmou que Cuba conseguiu eliminar absolutamente a transmissão de sífilis e de aids da gestante para o filho.

    Mais do que para Cuba, é uma grande notícia para a humanidade. Sabe-se agora como fazer para que milhões sejam poupados dos sofrimentos por deformidades e males perversos e, no caso da aids, de opressivos condicionamentos e discriminação.

    Só (?) depende de que os governos adotem os procedimentos salvadores. No Brasil, Estados bem que poderiam fazê-lo por sua conta, sem esperar pelo grande plano nacional que jamais se efetiva.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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