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    Janio de Freitas

    Outras contas

    05/11/2015 02h00

    Audácia e astúcia –eis Eduardo Cunha. É ele mesmo, em pessoa, a explicação para a tão difundida curiosidade sobre o desfecho do seu caso no Conselho de Ética. Ou, mais ainda, sobre o desempenho do próprio naqueles circunstâncias.

    Eduardo Cunha já disse que provará não haver mentido à CPI da Petrobras, como alegado por proponentes da cassação do seu mandato, com base nas contas suíças do deputado. O mais provável argumento mágico que usará é o de que afirmou à CPI não ter contas do exterior. E as contas mandadas pelos suíços têm nomes de fantasia, ou "empresariais", não o seu. Ainda que não se desconecte das contas, cujos registros têm sua assinatura, pode contestar o motivo da acusação.

    Mas, entre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, é indiferente o que se passe no Conselho de Ética. O interesse está, acima das delações verbais, em um levantamento contábil do "recebido e a receber" que Fernando Soares, o Baiano, diz ter recebido de Eduardo Cunha como cópia, em e-mail, da contabilidade das transações de ambos com terceiros. Esta é tida como uma das mais importantes delações e a mais forte referente a Eduardo Cunha.

    PROVOCAÇÃO

    O plano da facção de caminhoneiros que quer "paralisar o abastecimento das cidades", como exposto na internet, é de irresponsabilidade só menor que a dos movimentos pró-impeachment que o incentivam. A combinação e o propósito retiram o caráter reivindicatório da greve de parte dos estradeiros, marcada para segunda-feira (9). A ação pretendida daria características físicas ao confronto até aqui próprio de forças apenas políticas.

    Não é o tom que se eleva, quando entrara em declínio. É o salto para uma zona sombria em que não há possibilidade alguma de resultado positivo, por menor que seja, para qualquer das partes.

    Quase tudo parece recomeçar, por desconhecimento ou má-fé, o já vivido a caminho dos tantos precipícios em que o Brasil caiu, ou foi até à iminência de despencar.

    VOCAÇÃO

    Nem toda a importância que as contas ilegais no exterior adquiriram, para a opinião pública e a política, foi capaz de fazer a oposição na Câmara tratá-las pela ótica do conveniente ao país. O projeto de lei para atrair de volta esse dinheirão, desde que não proveniente de ilicitudes, sofreu duplo boicote de deputados, por integrar as medidas propostas pelo governo.

    A tentativa de acordo para a pronta votação do projeto, feita por vários ministros e deputados governistas, encontrou a oposição com a ideia de protelar a votação e, portanto, a lei e o retorno do dinheiro. A alternativa ficou clara: a disputa a todo risco.

    O relator do projeto, Manoel Júnior, paraibano do PMDB, incluiu variadas formas de proteção a criminosos financeiros. Até a importação sem pagamento dos impostos devidos, que em português razoável é o velho contrabando, entrou no projeto. Aliás, como contrabando de Manoel Júnior.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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