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    Janio de Freitas

    Decisão do TSE mantém uma Presidência em estado catatônico

    11/06/2017 02h00

    Pedro Ladeira - 21.mai.2017/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 21.05.2017: MICHEL-TEMER - O presidente Michel Temer concede entrevista exclusiva à Folha na biblioteca do Palácio da Alvorada em Brasília. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
    O presidente Michel Temer, durante entrevista à Folha, no Palácio do Alvorada

    A não ser pelo espetáculo de uma Justiça que se rege cada vez mais pelo facciosismo político, a verdade é que o julgamento da chapa Dilma-Temer e a decisão do TSE não têm importância alguma.

    A decisão contrária a Temer não o impediria de sobrepor recursos legítimos e recursos protelatórios, espichando sua permanência na Presidência.

    Com apoio do patronato desejoso das reformas regressivas de direitos trabalhistas e do modesto aumento da distribuição de renda em anos recentes. Seria aguentar-se apenas seis meses até 2018, quando o fim do recesso político de verão lançará o país já nos desvarios da eleição presidencial. Para o país, seria sujeitá-lo a uma presidência moribunda, de um governo desmoralizado e capacho, caso mais escândalos e processos não lhe impedissem a respiração artificial antes do fim do mandato.

    A decisão favorável a Temer não faz mais do que dar continuidade a uma presidência em estado catatônico. Com espasmos de medo pelo que algum dos seus convivas e associados diga em depoimento, e impossibilitada de responder a indagações policiais porque fazê-lo seria arruinar-se. A presidência de Temer é literalmente um caso de polícia. O que o julgamento do TSE lhe acrescenta é só a bênção de quatro juízes de um tribunal que se mostrou, não em todos mas em tudo, bem à altura do que julgava.

    O país não é parte desse enredo. Desde meados de 2014, quando a campanha eleitoral se intensificou com acirramentos e baixarias, são exatos três anos em que tudo nos níveis de condução do país consistiu em ações por interesses pessoais ou grupais. Aí incluída a reviravolta de Dilma para a política econômica "do mercado", que o impeachment buscou por outros meios. E incluído também o dirigismo da Lava Jato, até que as delações da Odebrecht, por iniciativa sua, abrissem um pouco o leque.

    Tudo no Brasil se agravou na cadência, dia a dia, desses três anos. Nenhuma força, política ou econômica, pôs os olhos e a voz para além dos seus interesses. Seu contato com o restante do país se fez apenas por intermédio das PMs, na repressão a segmentos de povo mobilizado por direitos seus ameaçados ou já mutilados.

    Os Estados desabam, mesmo o rico São Paulo faz pedaladas fiscais e estatísticas para esconder as perdas da educação. No rastro dos Estados, vão os municípios. O desemprego e seus reflexos, sociais e urbanos, crescem como epidemia de desesperos e inseguranças. O Brasil está no mapa mas não está no mundo, carente de ação externa e sucumbido à humilhação de país carcomido pela corrupção.

    Esse seria o Brasil que Temer, se o TSE o derrotasse, teria apoios poderosos para manter, desde que comprasse ao Congresso as medidas desejadas pelo "mercado". Esse será o Brasil que Temer, favorecido pelo TSE, terá apoio para manter, se proporcionar a transformação de direitos trabalhistas e sociais em maiores ganhos empresariais. E se não for interrompido pela polícia.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

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