No dia 15 de março de 2015 milhões de brasileiros foram às ruas para protestar contra o governo da presidente Dilma e demandar uma ação mais firme da classe política. Foi a maior manifestação da história do país. Contudo, apenas três dias depois e com o Brasil em crise, o senador Romero Jucá apresentou uma emenda triplicando o fundo partidário de R$ 270 milhões para R$ 867 milhões. A emenda foi aprovada pela presidente Dilma.

Desde então tivemos: a presidente afastada, um ex-governador preso, o ex-presidente da Câmara preso, ex-ministros presos e vários diretores da maior empresa estatal presos, assim também como importantes líderes partidários. E mais recentemente o presidente da República é denunciado no exercício do cargo, acusado de corrupção.

No lado econômico a situação é igualmente ruim: enfrentamos a maior recessão da história do Brasil; temos uma previsão de R$ 139 bilhões de deficit nas contas públicas, que provavelmente será ultrapassada, e alguns Estados em situação financeira precária, sem conseguir pagar salários e aposentadorias em dia.

No lado social, além de hospitais e escolas sucateadas e uma segurança deficiente, enfrentamos um crise de desemprego sem precedentes –quase 14 milhões de desempregados, fruto da reduzida liberdade econômica e dos altos impostos.

Pois bem, é nesse contexto e com um descrédito enorme e justificado em relação a classe política –com toda a exposição de falcatruas exposta pela Operação Lava Jato– que os partidos demandam mais de R$ 3,5 bilhões a R$ 6 bilhões de recursos públicos para financiar as suas campanhas. Segundo as palavras do senador Romero Juca, ele novamente: "Acho que o fundo é mais do que factível. É uma necessidade imperiosa".

Isto equivale a uma contribuição adicional de cerca de R$ 120 por família brasileira.

A pergunta que qualquer cidadão se faz é: faz sentido tirarmos mais recursos do orçamento público para financiarmos partidos e campanhas eleitorais? A resposta certamente é NÃO. A proposta é uma vergonha e um desrespeito a todos os brasileiros.

Independentemente do volume de recursos gastos nas próximas eleições teremos candidatos eleitos. Os cargos eletivos serão necessariamente preenchidos. As campanhas podem e devem ser mais baratas.

Portanto, o argumento de que recursos públicos para partidos é o custo da democracia não se sustenta. O custo da democracia é a nossa participação e a eterna vigilância sobre a atuação dos eleitos e dos partidos.

Somente a sede de poder e o alto risco de perda dos cargos, pela enorme demanda por renovação, explicam o desespero dos políticos atuais para aprovarem mais este privilégio. Essa atitude só confirma a necessidade de buscarmos políticos que de fato nos representem.

joão amoêdo

Escreveu até dezembro de 2017

Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.