Imagine a cena: o time de futebol está deixando o campo depois de sofrer uma goleada e, sob as vaias da torcida, alguns jogadores são entrevistados na beira do gramado. O centro-avante que não fez nenhum gol e acertou uma bola na trave explica que é fundamental alterarem o tamanho das balizas, o travessão deve ser mais alto e a distância entre as duas traves deve ser maior. O lateral esquerdo, que foi várias vezes vencido pelo atacante adversário, defende que o ideal seria que cada time tivesse quatro laterais. Por fim o goleiro, que levou quatro gols —sendo dois em falhas absurdas— se justifica e propõe que se adote uma bola de dimensão maior.

O cenário politico atual segue este mesmo exemplo: nossos representantes fracassam, mas tentam constantemente transferir seus erros para os "sistemas".

Não podemos nos enganar, o indivíduo, e somente ele, é o agente de mudanças.

Assim, a culpa da corrupção não está na origem do financiamento, seja ele público ou privado; a baixa representatividade política não é decorrente do sistema proporcional de eleição e, para resolver a governabilidade, a solução mágica não é mudar para o parlamentarismo. Nenhuma destas alterações trará soluções definitivas para os problemas que enfrentamos pois não há um modelo perfeito.

Esse discurso, em vigor no Brasil, onde culpam-se os mecanismos, tem o objetivo apenas de mudar o foco da discussão. Como no exemplo do futebol, onde os responsáveis pela goleada foram os jogadores ruins, no Brasil os maiores responsáveis pela crise atual são alguns atores políticos que não cumpriram e ou não cumprem o seu papel.

Entretanto, não podemos nos esquecer que fomos nós —através do voto— que os elegemos e que qualquer renovação dependerá das escolhas que faremos. A responsabilidade é nossa. A definição do nosso voto deverá seguir uma nova lógica para que a renovação não seja apenas nos nomes, mas sim no perfil e valores das pessoas. Só assim teremos práticas e, consequentemente, resultados diferentes.

Não podemos demonizar a política, ela é fundamental. Precisamos nos envolver, pesquisar os candidatos e os partidos disponíveis, avaliar o histórico de quem se candidata, sua coerência, o que ele falou e o que fez. Incentivar nossos amigos e familiares, que sejam competentes, a se candidatarem. Devemos participar das suas campanhas, admirá-los e apoiá-los. É nossa obrigação influenciar outros. Neste processo, os formadores de opinião têm uma responsabilidade e uma missão ainda maior. Enfim, um procedimento contrário ao que normalmente adotamos em eleições passadas.

Nosso voto é muito poderoso, decisivo e não tem preço.

Se queremos resolver os problemas que assolam o país, precisamos deixar de ser apenas torcedores para finalmente entrarmos em campo. Cabe a todos o papel de técnico, escolhendo o melhor time através do voto, e para alguns o importantíssimo papel de jogador.

A renovação está em nossas mãos. A hora é essa.

joão amoêdo

Escreveu até dezembro de 2017

Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.