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    João Amoêdo

    O empresariado e a política

    04/09/2017 07h35

    AFP
    Painel da Bolsa e Valores de São Paulo
    Painel da Bolsa e Valores de São Paulo

    Encontrar soluções que revertam a trajetória de retrocesso do país é vital e, para isso, um ponto relevante a ser avaliado é a relação entre a classe empresarial e a política.

    As mudanças necessárias na sociedade brasileira passam pela ação dos indivíduos e um grupo determinante para o sucesso das reformas é o dos empreendedores.

    O atual modelo intervencionista de Estado, com alta carga tributária, impede o crescimento e a geração de riqueza. Ele precisa ser alterado, mas não podemos nos esquecer que ele não surgiu por acaso. Ele foi fruto do interesse de uma boa parte dos políticos, que passaram a deter mais poder, e do empresariado. Grande parte por omissão e alguns pela busca de privilégios.

    Estas posturas resultaram no modelo de capitalismo de compadres que temos hoje, com um favoritismo do governo para certas empresas ou segmentos da economia.

    Entre os empresários contudo é importante fazermos uma divisão de responsabilidades. Os pequenos e médios premidos pela complexa legislação tributária, burocracia e altas taxas de juros —só para citar alguns dos desafios— lutam para se viabilizar. Para esses, é quase impossível contribuir para o debate público ou liderar mudanças. Eles são de fato reféns do modelo atual e o voto é a sua arma principal.

    Entretanto, a elite empresarial —pelo papel que tem na criação de riqueza, por ser grande geradora de empregos, por se relacionar constantemente com consumidores, investidores e trabalhadores— tem um papel fundamental. Ela é formadora de opinião e deve ser protagonista no processo de reconstrução do país.

    Uma sociedade próspera necessita de valores, boas práticas, bons líderes e gestores que inovem constantemente. Pessoas que saibam definir prioridades, encontrar oportunidades e gerir de forma responsável os recursos. Essas características estão presentes na vida dos empreendedores e devem prevalecer também na gestão pública.

    O tempo da omissão e da demanda por privilégios como, por exemplo, empréstimos a taxa de juros subsidiadas, isenções fiscais pontuais e barreiras protecionistas, precisa ficar para trás.

    O novo Brasil precisa de empresários que entendam que a sobrevivência e crescimento dos seus negócios depende da saúde da sociedade e que não existe melhor sistema do que o capitalismo, com a livre iniciativa em um ambiente concorrencial. Que saibam que a sua atuação pública deve ser a mais abrangente possível e que as suas posições sejam claras e transmitidas de forma simples. Que haja sempre coerência entre o discurso e a prática e que é legitimo defender seus interesses, desde que isso não prejudique o país e não seja feito de forma ilícita.

    Este grupo de empresários existe. O desafio, agora, é transformá-lo em maioria.

    O receio, por parte de alguns, de que uma ação política mais afirmativa possa prejudicar os negócios é a maior evidência de que já estamos atrasados neste processo.

    Está na hora daqueles que já alcançaram sucesso darem a sua contribuição para o país. Não podem se omitir, devem adotar uma postura ativa em relação a política, defender princípios e ideias, influenciar as pessoas e se candidatar.

    joão amoêdo

    Escreveu até dezembro de 2017
    joão amoêdo

    Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.

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