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    João Amoêdo

    Afinal, nosso voto tem preço?

    09/10/2017 09h05

    A reforma política aprovada pelo Congresso deixa claro o seu objetivo: impedir a renovação. Os mecanismos implementados servirão basicamente para resolver o maior problema dos grandes partidos políticos: a falta de dinheiro para financiar as suas campanhas.

    Essa demanda desesperada por recursos públicos revela a natureza e a qualidade da nossa representatividade.

    Os partidos não conseguem convencer o cidadão dos seus planos para o país que justifique um investimento nas suas propostas. Ao contrário pela enorme rejeição da população, os candidatos tradicionais se sentem premidos a gastar fortunas nas suas campanhas, pois o diálogo, a sola de sapato, a exposição transparente das suas plataformas não são suficientes para obterem os votos necessários.

    O apego ao poder sempre foi uma característica dos nossos políticos, difícil imaginar que seja por um espírito de sacrifício e serviço ao povo brasileiro, mas provável, acredito, que seja pelo reconhecimento da falta de oportunidade na iniciativa privada de uma colocação com a mesma remuneração e quantidade de mordomias em relação à carga de trabalho.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante votação de proposta de reforma política, nesta quarta
    Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante votação de proposta de reforma política

    Esse desejo de permanecer como mandatário ficou ainda mais forte com as denúncias da Lava Jato e o tratamento diferenciado para aqueles que gozam de foro privilegiado.

    A aprovação de uma verba milionária –R$ 1,7 bilhão de reais– para o financiamento de campanha e uma cláusula de desempenho que servirá para distribuir as benesses destinadas as agremiações foram as principais modificações sancionadas.

    A preocupação com temas que dessem mais liberdade e representatividade ao eleitor, como aprovação do voto facultativo, facilidade para a montagem de partidos, possibilidade de candidatura avulsa e redução de recursos dos pagadores de impostos para os partidos, não foram nem objeto de discussão. Para nós ficou, como de hábito no modelo do Estado brasileiro atual, mais uma conta a ser paga.

    O "custo da democracia" foi o argumento utilizado em larga escala pelos congressistas para justificar a implantação do Fundão. Nada mais falacioso. A afirmação de que a democracia tem custo é resultado de um raciocínio equivocado que parte do princípio de que nosso voto tem preço. O custo da democracia cabe a cada um de nós que deve, de forma voluntária, utilizar seu tempo na busca e avaliação do seu candidato.

    Não é correto desviar ainda mais recursos de impostos ou da poupança dos cidadãos para os partidos que, por serem representantes de uma parcela da sociedade, deveriam ser por essa sustentados.

    Será salutar também que alguns políticos –provavelmente já há muito tempo afastados da área privada– entendam que as necessidades na vida real são resolvidas com muito trabalho, resiliência, sacrifício e não com recursos retirados compulsoriamente de terceiros.

    Em 2018 caberá ao eleitor mostrar a todos que aprovaram essa reforma que a representatividade não está à venda.

    joão amoêdo

    Escreveu até dezembro de 2017
    joão amoêdo

    Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.

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