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    João Amoêdo

    Hora de combatermos os privilégios e o oportunismo

    06/11/2017 10h30

    A cada dia que passa as notícias explicitam a forma como pensam e agem nossos representantes políticos. Essa última semana não foi diferente.

    Um dos destaques foi o pedido e o fundamento utilizado pela ministra Luislinda Valois para solicitar ao governo o acúmulo da aposentadoria recebida como ex-desembargadora com o salário de ministra dos Direitos Humanos.

    O seu rendimento bruto seria de R$ 61 mil, valor muito superior ao teto constitucional que é de R$ 33,7 mil. No seu entendimento, receber menos significaria, na prática, se sujeitar a um trabalho "escravo" já que não teria uma remuneração adequada às suas "necessidades".

    Os absurdos do pleito são evidentes. Para começar não deveríamos ter um ministério encarregado de Direitos Humanos. Cabe ao Estado de Direito cumprir a lei e a Constituição nas suas diversas instâncias. Esse ministério, assim como vários outros, tem o objetivo apenas de acomodar políticos em consequência de acertos partidários.

    O segundo aspecto diz respeito à aposentadoria recebida pela ministra, cerca de R$ 30 mil, valor equivalente a 18 vezes a média paga aos aposentados da iniciativa privada.

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 03.02.2017 - A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, na cerimônia de sua posse no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). (Foto: Alan Marques/Folhapress)
    A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois

    O envelhecimento da população e altas remunerações do setor público são os principais responsáveis pelo deficit que temos hoje nas contas da Previdência, previsto para R$ 189 bilhões este ano e que deve aumentar, se nenhuma reforma for realizada, para R$ 202 bilhões no próximo. Essa é uma conta que estamos deixando para nossos filhos e netos.

    O terceiro e último ponto é o total distanciamento da realidade por parte da ministra e a crença em privilégios no setor público. Ela se esquece que existem hoje mais de 13 milhões de desempregados no Brasil e que os 65 salários mínimos que ela gostaria de receber são pagos por essas pessoas.

    O pedido da ministra é inaceitável, mas um erro ainda maior é do presidente Temer que a nomeou e a mantém no cargo depois desse episódio.

    O segundo bloco de notícias da semana diz respeito ao caráter oportunista de alguns dos nossos políticos. O PT e o PMDB, apesar das grandes divergências em relação ao processo de impeachment, mencionam que pretendem se coligar para tentar eleger oito governadores em 2018.

    O argumento apresentado por lideranças do PMDB é de que o partido é "plural". Além disso, prefeitos eleitos de dez capitais, que tomaram posse há menos de um ano, já fazem planos e se preparam para deixar os mandatos em 2018 com o objetivo de concorrerem a outros cargos.

    A falta de valores e princípios na busca por alianças e a ausência de compromisso com os eleitores é explícita.

    Parte dos nossos representantes políticos está em busca de privilégios que não conseguiria na iniciativa privada, visa muitas vezes uma atuação oportunista e ainda acredita que tais procedimentos passarão despercebidos pela maioria dos eleitores, numa evidente demonstração de desprezo pela percepção e inteligência dos brasileiros.

    Em 2018 precisamos fazer escolhas conscientes para elegermos pessoas que privilegiem um ambiente onde os brasileiros possam ter oportunidades e liberdade, substituindo uma minoria oportunista que busca privilégios.

    joão amoêdo

    Escreveu até dezembro de 2017
    joão amoêdo

    Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.

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