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    João Amoêdo

    O consenso que precisamos: mais liberdade e mais responsabilidade

    04/12/2017 08h39

    A economia brasileira, ainda frágil, está esboçando os primeiros passos de recuperação após um longo período de recessão, mas a política encontra-se afundada em descrédito, com os velhos partidos e vários de seus integrantes buscando alguma forma para se manterem no poder.

    Nesse cenário, a ideia de um consenso proposta por alguns deve ser avaliada com ressalvas. O entendimento mútuo e a conciliação de ideias são muito importantes em uma democracia, mas devemos ter cuidado.

    A construção de consenso na política brasileira sempre nos custou muito caro. Até hoje, no nosso país, temos grande dificuldade de estabelecer o consenso em questões óbvias já que várias pessoas combatem a lógica como, por exemplo, o fracasso do modelo socialista.

    Quando a classe política atual se reúne para compor uma maioria ou alcançar um consenso sobre determinado tema, isso se dá às custas dos cofres públicos, ou seja, às custas de cada cidadão brasileiro.

    A verdade é que em um arranjo político como o nosso, de presidencialismo de coalizão em que para governar o Executivo precisa costurar uma sólida maioria no Legislativo, o consenso não é fruto de reflexão e entendimento, mas sim de um processo de barganha.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante votação de proposta de reforma política, nesta quarta
    Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, em votação da reforma política

    Votos por cargos em comissão, apoio partidário por ministérios, aprovação de um projeto de lei em troca da concessão de mais verbas para emendas parlamentares ou, muitas vezes, até coisas piores, como já tomamos conhecimento.

    O cidadão em nenhum momento entra na equação. A busca por um denominador comum não é conduzida pelo desejo de oportunizar uma vida melhor para os brasileiros, tampouco se dá com base em ideias e valores. Os interesses são outros e as decisões são tomadas por pessoas encasteladas em seus gabinetes e distantes da população.

    Nos corredores do Congresso Nacional, em Brasília, a lógica é outra, perversa, autocentrada e indiferente para os reais problemas das pessoas.

    Fala-se agora sobre a construção de um novo consenso para recolocar o país nos trilhos e retomar o crescimento em 2018. No entanto, antes de aderir é importante questionar: O que é esse novo consenso? Como ele será construído? Em quais premissas e valores ele estará fundado?

    Parece bastante claro que não se pode pensar em algo novo com base em práticas velhas ou construir um novo consenso através de premissas ultrapassadas e incentivos tortos. Precisamos de uma nova forma de fazer política, que coloque o cidadão em primeiro lugar, mitigando os pequenos interesses e os pleitos corporativos e partidários.

    E quando falo do cidadão brasileiro, não estou falando deste ou daquele grupo de privilegiados, detentores de mecanismos de pressão, mas de todos, de cada um dos mais de 200 milhões de brasileiros. Não estou falando da minoria barulhenta, mas de todos, especialmente da maioria silenciosa.

    Além disso, é necessário estar atento para que a busca pelo consenso não se transforme em uma desculpa para esconder ou distorcer a verdade. Devemos ter coragem de encarar os problemas de frente, reconhecer os fatos exatamente como eles são e construir soluções racionais e objetivas, que funcionaram em outras partes do mundo.

    A busca do consenso, por si só, não resolve pois ele não é um fim em si mesmo. O que precisamos, neste momento, é construir um país onde todos tenham mais liberdade e mais responsabilidade.

    joão amoêdo

    Escreveu até dezembro de 2017
    joão amoêdo

    Fundador do Partido Novo. Formado em engenharia civil e administração de empresas, foi sócio do banco BBA e vice-presidente do Unibanco. É sócio do instituto Casa das Garças.

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