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    João Manoel Pinho de Mello

    Bolo cresce quando a alta do lucro vem da melhora da produtividade

    17/03/2017 02h00

    Divulgação
    Linha de producao da Termomecanica, empresa de filamento de cobre para industria eletrica Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Linha de produção de empresa de filamento de cobre

    Despeço-me desta coluna. Serei eternamente grato à Folha. Foi uma honra.

    A coluna foi interrompida precocemente por um convite para ajudar na formulação e na implementação de políticas que aumentem a produtividade da economia brasileira.

    Escrevi em uma coluna:

    "Há quatro formas de aumentar o PIB per capita. Três são intuitivas: acumular máquinas (capital), colocar mais gente para trabalhar (trabalho) e qualificar o trabalhador (capital humano). Capital, trabalho e capital humano explicam parte das diferenças de renda entre países e de sua evolução ao longo do tempo.

    A parte não explicada é a produtividade. É a quarta forma de crescer: produzir mais bolo com os mesmos ovos e a mesma farinha, ou seja, o fermento".

    Nossa produtividade patina há décadas, como demonstram vários analistas, incluindo este escriba. Por isso, o crescimento brasileiro foi frustrante desde a década de 1980. Em que pesem avanços importantes, como a derrota da inflação e a diminuição da pobreza, nosso desempenho esteve muito aquém do que poderíamos. Ainda estamos em busca do esquivo crescimento sustentável.

    A boa notícia é um copo meio cheio: há muito o que melhorar. O crescimento sustentável depende das decisões que estamos tomando neste momento. Tudo começa pela correção os desequilíbrios fiscais, o que exige uma reforma previdenciária nos moldes que o governo federal propõe.

    Mas, além do fiscal, a agenda da produtividade é crucial. Ela já começou, mas a tarefa é longa. Se aumentarmos sistematicamente a produtividade por vários anos, entregaremos para nossos filhos um país tão próspero como a Austrália hoje. Caso contrário, entregaremos algo parecido com a Grécia, com sorte.

    A agenda da produtividade é de todos os governos, federal, estaduais e municipais. E é não só dos atuais governos mas também do que os seguirão. E é não só dos Poderes Executivos mas também dos Poderes Legislativos e Judiciários Brasil afora. E é não só dos poderes públicos mas, principalmente, da sociedade.

    Compete à sociedade a decisão de abraçar a agenda da produtividade. Por vezes, ela será dura, assim como o é o ajuste fiscal. Mas abraçar a agenda não basta. É preciso ajudar com ideias e propostas.

    A ação do governo é importante, evidentemente. Mas ele não é sabe-tudo, pelo contrário. No passado recente erramos ao acreditar que, desde Brasília ou de quaisquer gabinetes em outras capitais, adivinharíamos o que era melhor para os que produzem. O que impede o empreendedorismo? Quem saberá melhor são os próprios empreendedores. Eles podem ajudar. O governo deve buscar a ajuda.

    A ajuda deve vir na forma de propostas que aumentem produtividade, a única maneira de crescer de forma sustentável. A melhora da produtividade fará crescer os lucros, assim como os salários e a arrecadação, mas é preciso estar claro que aumento de lucro e melhora de produtividade não são equivalentes.

    O lucro pode aumentar à custa do contribuinte (isenção tributária), do fornecedor (forçar os fornecedores de energia a vender por um preço artificialmente baixo) ou do comprador (proteção tarifária ou conteúdo local). Essas formas de aumento de lucro são disputas por fatias do mesmo bolo.

    O bolo cresce quando o aumento de lucro vem da melhora da produtividade. É como se usássemos um fermento melhor. E é do aumento no tamanho do bolo que sairão os recursos para construir uma sociedade mais próspera e justa.

    JOÃO MANOEL PINHO DE MELLO deixa de escrever nesta coluna porque vai ocupar cargo no Ministério da Fazenda.

    joão manoel pinho de mello

    Escreveu até março de 2017

    Economista trata de temas menos frequentes no debate econômico, como desenhos de leilões de concessão, custo da violência e causas da desigualdade.

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