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    João Paulo Cuenca

    Plot twist

    08/04/2016 02h00

    Se a gente tivesse eleito Silvio Santos, nada disso teria acontecido.

    E a culpa é toda do Eduardo Cunha. Ele encontrou a falha no registro do PMB que inviabilizou a candidatura do Silvio em 1989. Convidado por PC Farias a entrar no PRN, Cunha foi colaborador e tesoureiro da campanha de Fernando Collor no Rio de Janeiro. Como recompensa, ganhou a presidência da Telerj em 1991. Já famoso por escândalos de superfaturamento, caiu poucos meses depois que a República da Casa da Dinda implodiu. Em 1996, ano em que Farias foi assassinado, Cunha foi autuado em um dos processos que investigava o Esquema PC. Conseguiu um habeas corpus e a ação foi trancada. Vinte anos depois, Eduardo Cunha segue sendo Eduardo Cunha.

    (A estatal de telefones do Rio deixou para a história um rastro de corrupção, incompetência, burrice e a fama de apenas um funcionário –que nunca trabalhou lá– o Eliseu Drummond da Telerj, conhecido pela sua altercação telefônica com o saudoso Dr. Luiz Pareto.)

    Se a gente tivesse eleito Silvio Santos, nada disso teria acontecido. Em 9 de novembro de 1989 não caiu apenas o Muro de Berlim. Futuras gerações lembrarão da efeméride como a data em que o TSE derrubou o apresentador da corrida eleitoral por sete votos a zero. O dono do SBT teria desequilibrado a campanha –Collor, informado por pesquisas encomendadas na época ao Vox Populi, sabia que não teria ido ao segundo turno caso Silvio estivesse no páreo.

    Nada disso teria acontecido. E, no lugar, já em 89, talvez uma governança mais íntegra e preparada. Carlos Alberto de Nóbrega no MinC, Sérgio Mallandro no Ministério da Ciência, Ratinho na Defesa, Celso Portiolli nos Transportes, Paulo Cintura na Saúde, Miele no Bem-Estar Social, Gugu na Educação, Vera Verão no Itamaraty, Lombardi na Casa Civil –e porta-voz da República, claro. No STF apenas seriam indicados os jurados do "Show de Calouros": Elke Maravilha no lugar de Rosa Weber, Pedro de Lara no lugar de Gilmar Mendes. O congresso: o auditório lá.

    O programa de distribuição de renda: Tele Sena. O Baú da Felicidade no lugar do Minha Casa, Minha Vida; o Enem trocado por um esquema "Show do Milhão". O Imposto de Renda pelo Carnê do Baú. Na Voz do Brasil, nunca mais a introdução do Guarani e sim a música-tema do "Show de Calouros". Ou iríamos mesmo aposentar o Hino Brasileiro e cantar, felizes, tra-lá-lá-lá-lá-lá.

    Nas raras tragédias, o Silvio iria sobrevoar áreas afetadas e jogar aviõezinhos de dinheiro em vez de liberar o dinheiro do FGTS para as vítimas. O real seria indexado em "barras de ouro, que valem mais do que dinheiro". E ia voltar a "Semana do Presidente".

    O Brasil seria um lugar muito melhor.

    *

    Esse texto foi escrito por Michel, Jess, Leandro Schonfelder, Tiago Lyra, Elton Lopes, Fabio Bianchini, Francisco Barbosa, Samir Salim, Jarmeson, Luiz Pattoli, Boris, Bruno Correia, Jesse Marmo, Raquel Drehmer, André Sollitto, Alexandre Matias, Charles Pilger, Carlos Villela, Tiago Brandão, Thiago Cavazzana, Eduardo Lisboa, Bill Bonzo e eu na inspirada tarde do dia do jornalista, 7 de abril, num fórum/lista de e-mails, a Poplist, onde jornalistas tretam e conspiram desde 1998.

    j. p. cuenca

    Escreveu até setembro de 2016

    É escritor. Foi selecionado em 2012 pela revista britânica "Granta" como um dos 20 romancistas brasileiros mais promissores com menos de 40 anos.

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