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    José Henrique Mariante

    Esporte amador

    23/07/2015 02h00

    SÃO PAULO - O menino sai da água e cutuca o vencedor, quer cumprimentá-lo. Brandonn Pierry de Almeida parece mais empolgado por ter nadado contra o ídolo, um veterano canadense, do que com a medalha que acabou de ganhar.

    Após o pódio, o bronze reluz ainda menos. Brandonn mostra para a câmera seu verdadeiro troféu no dia: a touca de Ray Cochrane, o adversário paradigma, especialista nos 1.500 m nado livre, a prova que deu a primeira medalha olímpica para a natação brasileira, em 1952.

    O repórter da TV insiste no bronze e pergunta se a estratégia não poderia ser ajustada para alcançar a prata –Brandonn passou boa parte das 30 piscinas em sexto, arrancando para a terceira colocação apenas nas últimas viradas. Ele responde que sua estratégia é "negativa", segurar no começo, poupar energia, disparar no final, e que fez o melhor que conseguiria fazer contra adultos. Brandonn, 18, é atleta juvenil, conquistou um recorde mundial na sua categoria (com ouro) e um recorde brasileiro (com bronze) em sua primeira competição internacional absoluta, em Toronto. E isso tudo não importa mais. O que vale agora é o Mundial júnior, em agosto.

    Brandonn é um fenômeno não apenas porque já sabe que Pan é meio e não fim. É especial por ser um amador a brilhar em um país que privilegia profissionais. Em lugares civilizados, onde esporte é política pública e de saúde, campeões brotam do chão porque a base de atletas amadores é imensa. O ensino e a prática das diversas modalidades são ofertas cotidianas, assim como aula de matemática. Não é preciso ser bom de conta para perceber que, se é difícil achar um atleta olímpico entre muitos amadores, é quase impossível encontrá-lo entre poucos.

    Brandonn é um milagre estatístico. E a Olimpíada em casa, defendida como um divisor de águas na história do esporte nacional, promete, a um ano dos Jogos, melhorar a vida na Barra da Tijuca. E olhe lá.

    josé henrique mariante

    Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992

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