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Movimento de pessoas no Reichstag, o Parlamento alemão, em Berlim |
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Colunistas
Wednesday, 15-May-2024 00:01:15 -03José Henrique Mariante
Onde mais é menos
21/04/2016 02h00
SÃO PAULO - Vai a Berlim? Vá ao Reichstag, o prédio histórico do Parlamento, modernizado após a reunificação da Alemanha.
A partir da entrada, que é a mesma para políticos e visitantes, uma rampa em espiral conduz ao topo da grande abóbada no teto. A espiral também contorna um conjunto gigante de espelhos que, alojado no interior da abóbada, leva a luz do Sol ao Parlamento. De noite, o inverso ocorre, e a luz do Parlamento é refletida para fora, como um farol.
Trafegar por tudo isso dá uma sensação de parque de diversões no começo. Mas, quando se percebe que a sessão do Congresso simplesmente acontece sob a rampa, a ideia de igualdade e transparência, por mais ingênua que soe, fica irresistível. Vãos e espelhos revelam parlamentares e visitantes uns aos outros, os misturam.
A ideia de aproximar representantes e representados existe também no Congresso Nacional em Brasília. A galeria do público é o ponto de contato entre o grande prato, a Câmara, sobre a laje, o Congresso, como a sublinhar o eleitor no papel de sustentação dos deputados.
A sutileza arquitetônica resta no desenho. A vida real transformou a Câmara em um prédio apertado, disfuncional. O espaço projetado para menos de 400 deputados abriga mais de 500, que não conseguem trabalhar sozinhos, precisam de garçons, bandejas, assessores, serviçais. As tribunas ficaram tímidas diante da Mesa Diretora inchada. Uma decoração de conforto superou a assepsia modernista. O aspone inverteu o "menos é mais" de Mies van der Hohe, e o doutor levou a frase a sério.
Essa Câmara escura se expôs ao país no final de semana. Ficamos chocados com o que vimos e nem tanto com o fato de a galeria, o espaço verdadeiramente público do prédio, ter sido reservada às famílias dos deputados, tão lembradas nos discursos.
Falta luz e transparência à Câmara. Está mais do que na hora de uma reforma. Como o prédio é tombado, melhor começar por quem o ocupa.
Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992
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