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    José Henrique Mariante

    Finlândia testa renda mínima, e Brasil, ganho máximo

    24/11/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, se reúne com indígenas no anexo do Palácio do Planalto, em Brasília (DF)
    O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, em Brasília (DF)

    SÃO PAULO - A Finlândia vai testar um programa de renda mínima em 2017. Duas mil pessoas passarão a receber 560 euros mensais, livres de impostos, simplesmente por serem finlandesas. O experimento vai até 2019, quando se discutirá a viabilidade de estender o plano aos demais habitantes.

    A lógica é semelhante à defendida desde sempre por Eduardo Suplicy. Sai mais em conta distribuir dinheiro à população, indiscriminadamente, sem contrapartida, do que sustentar os muitos benefícios existentes e a máquina estatal necessária para controlar quem tem direito a o quê.

    Não há perspectiva de nada parecido no Brasil, pois aqui somos modernos e temos a civilidade de decidir os próprios benefícios. O ministro Eliseu Padilha, estimulado por reportagem de "O Globo" que o descrevia como um dos três atuais ministros a furar o teto constitucional de R$ 33.763, recolocou-se nele. Geddel Vieira Lima, por sua vez, disse que tinha direito aos R$ 51.288,25 mensais que recebe por ser (continuar?) ministro e também ex-deputado federal.

    Claro, o negociador de Temer não é o único sem-teto deste país. Está ao lado de políticos, juízes, promotores, defensores públicos e outras poucas classes de servidores que na prática determinam os próprios ganhos. Se Geddel soa ridículo ao afirmar que um acórdão do TCU considera privado fundo de órgão público para o qual contribuiu durante mandato também público, o que dizer de quem pede auxílio-creche até o filho completar 24 anos?

    Essa turma não está na frente da Alerj ou do Palácio Piratini tomando gás-pimenta para salvar os caraminguás, mas será insidiosamente ativa para manter o que considera ser seu de direito.

    Mais ou menos como repetir a experiência finlandesa, só que ao contrário, garantir um ganho máximo de um bolo cada vez menor.

    A diferença é que lá é teste. Aqui, não tem volta, é para valer.

    josé henrique mariante

    Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992

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