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    José Henrique Mariante

    Matar e morrer pela boca

    17/08/2017 02h00

    Ryan M. Kelly-12.ago.2017/Associated Press
    People fly into the air as a vehicle drives into a group of protesters demonstrating against a white nationalist rally in Charlottesville, Va., Saturday, Aug. 12, 2017. The nationalists were holding the rally to protest plans by the city of Charlottesville to remove a statue of Confederate Gen. Robert E. Lee. There were several hundred protesters marching in a long line when the car drove into a group of them. (Ryan M. Kelly/The Daily Progress via AP) ORG XMIT: VACHA103
    Pessoas são atropeladas por veículo durante protesto Charlottesville, EUA; uma mulher morreu

    SÃO PAULO - Espécie de prima pobre do fake news é a casca de banana que fez Donald Trump escorregar feio duas vezes nesta semana. Colocar ativistas de esquerda, ainda que violentos, no mesmo patamar de quem usa suásticas e defende genocídios talvez seja o exemplo mais acabado de falsa equivalência, prática que campeou na última eleição americana até ser superada pela não menos antiga invenção de notícias. Ou sua versão fortificada pela entropia das redes sociais.

    Os dois fenômenos são pérfidos, claro, mas, enquanto fazer uma mentira emplacar é algo não necessariamente elaborado, comparar incomparáveis embute raciocínio e, quase sempre, uma maldade insidiosa.

    Notícia falsa engana. Falsa equivalência faz o incauto chegar à conclusão errada, sozinho às vezes. São processos diferentes. A primeira, quando se revela a verdade, cai em descrédito. A outra, bem-sucedida a enganação, gera antes incerteza.

    Trump finge que faltou na aula de história. Lá se aprende que os nazistas abusaram de falsas equivalências para justificar o extermínio de judeus e toda sorte de desvalidos —homossexuais, ciganos, pessoas com deficiências, crianças com down, anões, obesos, estrábicos, alcoólatras, viciados em geral. Gente.

    Justificar os atos de quem acha esse tipo de coisa normal é tarefa para ignorantes ou desesperados. Trump não parece em nada burro, dá sinais portanto de estar fincando pé no segundo grupo. As falácias que proferiu sobre aquecimento global só ecoaram no Meio-Oeste de seu país. O presidente americano virou vidraça no encontro do G20 e viu Elon Musk e outros se afastarem da Casa Branca.

    Nova debandada acontece agora, minando sua situação política diante de um Congresso já quase hostil. O outrora rei do Twitter vê ainda o antecessor Barack Obama bater recorde histórico de curtidas com frases de Nelson Mandela sobre tolerância.

    Trump, cada vez mais, equivale menos a um presidente.

    josé henrique mariante

    Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992

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